MANUSCRITOS VI

Os rugidos ao redor

O mosteiro estava envolvido por uma agradável psicoesfera de alegria, comum ao início dos ciclos de estudos. Conversas eram retomadas, os últimos acontecimentos pessoais passavam por inevitáveis atualizações e se notava muita disposição para novos aprendizados. Eram dias aguardados por todos. Calado, cabisbaixo e com a feições tristonhas, Pedro destoava dos demais. Pedro destoava dele mesmo. Eu o conhecera bem no ano anterior, quando frequentara as aulas do Shiur – A jornada do autoconhecimento através de textos sagrados, curso que ficara sob a minha responsabilidade, onde nos encontrávamos todos os dias. Ele estava sempre risonho e participativo. Esperei pela primeira oportunidade para tentar conversar com ele. Aconteceu na cantina, quando o vi sozinho em uma mesa ao fundo, com o olhar perdido nas montanhas que se avistavam além das janelas. Eu o conhecia havia muitos anos e ele sempre me parecera um homem equilibrado. Tinha um pouco mais de quarenta anos, era casado com a sua primeira namorada, tinham dois filhos adolescentes saudáveis e tranquilos. Engenheiro, trabalhava em uma conhecida multinacional fabricante de aço, na qual se empregara logo após o término da faculdade. Uma existência estável e harmônica. Enchi uma caneca com café e perguntei se poderia me sentar ao seu lado. Ele aquiesceu com a cabeça sem tirar os olhos da paisagem oferecida pela janela. Perguntei pelo sorriso fácil que o caracterizava. Pedro respondeu que esquecera em um dia qualquer do passado. Uma amargura que não combinava com aquele indivíduo.

Indaguei se ele gostaria de conversar sobre o motivo de uma mudança tão angular. Pedro disse que não, sem mais nada acrescentar. Bebi o café em silêncio, para lhe dar um tempo de refletir se seria melhor enfrentar a questão com ajuda, nem que fosse para desabafar e ouvir as próprias dores como maneira de entendê-las melhor. Para descontruir os alicerces que sustentam os sofrimentos é fundamental entender como eles se construíram. Com a caneca vazia, como não houve mudança de vontade, pedi licença e me levantei, não sem antes o lembrar que poderia me procurar a hora que quisesse. Pedro não disse palavra. 

Passados dois dias, escuto uma enorme gritaria, uma situação incomum à tranquilidade do mosteiro. A confusão se originara em uma discussão nas aulas sobre o Bhagavad-Gita, com Pedro ameaçando agredir outro monge por divergir da sua interpretação de um poema. Foi preciso a intervenção de outros monges, como denominamos todos os integrantes da Ordem, para ele se acalmar. Ao tomar ciência dos fatos, me pareceu claro que Pedro estava com os nervos à flor da pele. Eu analisava a melhor maneira de abordar a questão, quando o vejo naquele mesmo dia, exaltado, reclamando de maneira indelicada com o pessoal da cozinha sobre a qualidade do jantar. O mosteiro não é um hotel sofisticado, mas um lugar dedicado ao aprimoramento do conhecimento sobre assuntos relacionados à alma, como a filosofia e a metafísica. A alimentação é saudável e saborosa em sua simplicidade. Nada além disto. 

Sem que os demais monges percebessem, pedi para ele comparecer à minha sala após o jantar. Ao encontrar comigo, as suas feições demostravam a contrariedade de quem não gostaria de estar ali. Sem que eu nada falasse, Pedro começou a argumentar em defesa própria. Alegou ter sido provocado pelo monge com o qual discutira durante o curso de Filosofia Oriental, assim como era inadmissível a “absurda falta de tempero na comida”. Optei em fazer uma abordagem diferente: “Pouco me importam os motivos das brigas. Muito me interessam as causas da insatisfação”. Fiz uma pausa e questionei: “O que mudou dentro você?”. Ele se calou. Prossegui: “Absurda não é a falta de tempero ou a provocação que alguém tenha lhe feito. Isto são coisas comuns no mundo e acontecerão sempre. Quase nada será do jeitinho que a gente deseja ou acredita merecer. Aquilo que nos arranca de nós mesmos nunca está fora da gente. Absurdo é quando permitimos que a nossa luz se apague”. Fiz uma pausa e acrescentei: “Isso acontece todas as vezes que não conseguimos lidar com os nossos sofrimentos. Você pode negar. Então, o mundo se tornará um vilão e os fatos se agravarão em constantes conflitos. As guerras serão diárias e não se conhecerá a paz. A outra opção será expurgar a dor ao enfrentá-la de frente, sem rodeios nem desculpas. A cura exige coragem. Somente assim será possível retomar a posse quanto a si mesmo e sobre a própria vida. Sem isto, nada nos resta”.

Pedro me olhou com ódio e provocou: “Quem você acha que é? O que imagina saber sobre as altitudes e os abismos da minha alma? Você não é melhor do que eu para falar desse jeito comigo!”. Claro que ninguém é melhor do que ninguém, não se tratava disto. Descontrole significa perda de rumo. O eixo de luz do Pedro não estava mais sob seu comando, algo comum nos momentos de desequilíbrio emocional, quando as sombras se impõem sobre as virtudes. Adiantou que formalizaria o seu pedido de desligamento da Ordem naquele instante e iria embora no dia seguinte. Não deixei que fizesse e fiz uma sugestão: “Descanse. As noites servem para isto. O cansaço e a irritação nunca foram bons conselheiros. Nenhuma decisão ou gesto se presta sob essas influências. Amanhã continuaremos essa conversar”. Pedro disse não haver necessidade de nenhuma reflexão, pois tinha convicção do que era melhor para ele. Girou nos calcanhares e se retirou. 

Desde garoto tenho o hábito de acordar com o céu estrelado. Nunca me exigiu qualquer esforço. No mosteiro me tornei conhecido por preparar o primeiro bule de café da manhã. Naquele dia, quando entrei na cantina silenciosa e deserta, havia uma caneca fumegante à minha espera. Pedro me aguardava. Quando me sentei à sua frente, ele disparou antes mesmo de eu beber um gole: “Nunca senti tanto medo”, confessou. 

Sem que eu nada perguntasse, ele falou das suas aflições. Sempre acreditara ter um casamento perfeito até quando, algumas semanas atrás, a esposa disse estar apaixonada por um colega de trabalho. Falou que procurara uma advogada para tratar dos assuntos relativos ao divórcio, como a divisão do patrimônio e a guarda dos filhos. Pedro disse acreditar que ficaria casado para sempre ao lado de Laura, como ela se chamava. Era como se tivesse sido abandonado em um lugar escuro de onde não sabia voltar.

Contudo, apesar da tristeza com a situação, achou por bem sair de casa. Como se não bastasse, a multinacional, na qual estava empregado desde jovem, havia comunicado, dois dias antes das suas férias, que fecharia a fábrica onde ele trabalhava. A empresa priorizaria a filial localizada em um país vizinho, cuja legislação oferecia maiores vantagens tributárias. Alguns funcionários seriam remanejados. Os demais, dispensados. No dia de embarcar para o mosteiro, recebera uma mensagem de um colega: o nome de Pedro estava na lista dos demitidos. Ele seria avisado assim que retornasse.  Sabia que na sua idade não seria fácil a recolocação no mercado de trabalho. “Pode parecer drama, mas sinto como se não houvesse chão para pisar. O meu mundo desabou de uma hora para outra. Não houve tempo para eu me preparar”, confessou. Uma lágrima rebelde revelou a imensidão do seu sofrimento. Era como se tudo e todos tivessem se tornado uma ameaça para Pedro; qualquer movimento discrepante era interpretado como o rugido de um predador à espreita.

Bebi um gole de café e sugeri: “Embora bastante desagradáveis e indesejáveis, o problema não são os fatos ruins. Os acontecimentos que degringolam as nossas vidas são aqueles que não sabemos como reagir a eles. Ninguém os quer, mas divórcios e demissões circunavegam a existência de muitas pessoas. Os rugidos ao redor não são os causadores dos nossos medos. O medo surge quando deixamos de acreditar em quem somos. No nosso poder de se reinventar, se reerguer e de seguir em frente. Na força de narrar a própria história”.

Pedro afirmou não saber o que fazer: “Estou perdido. Não seu para onde ir. Salvo os meus filhos, não sobrou nada do mundo que construí durante toda a minha existência. O que fazer quando isso acontece?”. Tentei ponderar com ele: “Receber amor é uma das melhores coisas da vida. É maravilhoso e indispensável pelo bem que nos traz. Contudo, esse amor não é seu. É o amor de alguém oferecido a você. Assim, pode cessar de repente. Aceite. Não está sob o seu controle a continuidade desse amor. Da mesma maneira, são os bons empregos, as casas, os carros e a fortuna, todos desejáveis pelo bem-estar que proporcionam. Isto é legítimo. Contudo, as coisas do mundo estão contigo para usufruto efêmero, elas não são suas. Seu é somente aquilo que você é, as virtudes que já conseguiu agregar ao seu espírito, o quanto se permitiu evoluir na medida do amor florescido e frutificado”. Bebi mais um gole de café acrescentei: “Aliás, nem mesmo o seu corpo é seu em definitivo, pois adoece, envelhece, alquebra, perece e desaparece. Por isto a razão de valorizar os atributos do espírito; ele é verdadeiramente seu por ser quem você é. Somente essa essência prossegue para depois do fim”.

Lembrei das minhas aulas sobre o Tao Te Ching com Li Tzu e expliquei: “O tempo e a existência formam a matéria-prima. Você é o criador e a criatura da sua própria criação. Você será a sua obra. Tudo mais são apenas ferramentas para que você possa ser a melhor criação de si mesmo. Essa é a origem da força e do poder de uma pessoa”. 

“Quando se perde as coisas do mundo, mas se tem a si mesmo, você continua próspero. Quando se tem o mundo nas mãos, mas se perdeu de si mesmo, você nada tem por nada ser. É a miséria existencial”.

Pedro disse compreender os conceitos a que eu me referia, contudo, na prática não sabia como agir. Lembrei a ele: “Faz-se necessário retomar o controle sobre os seus princípios e valores norteadores e aceitar a impossibilidade de controlar os fatos do mundo, pois são originários das decisões referente à vida de outras pessoas. Basta que esteja no mais alto comando sobre si mesmo. Controle as suas escolhas no eixo da sua própria verdade, de maneira ampla e profunda, com toda a intensidade da sua luz. Assim retomará o equilíbrio fundamental”.

“No mais, viva um dia de cada vez, do melhor jeito possível”, era um antigo e indispensável conceito, lembrei a ele. “Perceba em cada movimento o fluxo da vida se expandindo ou se contraindo. É assim que entendemos o funcionamento das leis cósmicas; são elas que guardam, protegem e iluminam o Caminho”. 

Nada do que eu falava era novidade para ele, apenas se fazia necessário recordar importantes ideias que o desespero nos leva a desacreditar. Pragmático, Pedro disse: “Em tese, ainda estou empregado. É hora de aproveitar as minhas férias e traçar os planos para o futuro. O sofrimento em nada acrescenta, é preciso dar uma chance para a esperança mostrar o seu valor”. Aplaudi a mudança de postura que se avizinhava.

As transições são momentos de intensa instabilidade em razão das raízes da transformação ainda não estarem devidamente fixadas ao novo local, para onde a evolução nos conduz pouco a pouco. As sombras irão ficar de vigília para, ao menor descuido, tentar nos arrancar de nós mesmos e retomar o comando. Para tanto, insistem em nos levar à tristeza ou à revolta. Pedro lembrou de Laura e teve uma breve recaída: “Foram quase vinte anos de um casamento feliz. Tínhamos um relacionamento perfeito que se desmoronou de repente”. Tentei mostrar outro olhar: “Tudo se transforma, o amor também, pois precisa evoluir. O amor entre você e a Laura se modificou e, se não tem mais a força necessária para sustentar o casamento, que possa se transformar em uma bela amizade, seja pelos dias que viveram, seja pelos filhos que continuarão a ter em comum. Assim, nada se perde e a alegria ocupa o lugar da tristeza ou da mágoa”.

Ele aquiesceu com a cabeça. Prossegui pela necessidade de não deixar Pedro se perder pelo viés dos enganos, ninguém evolui fugindo à responsabilidade: “Um casamento perfeito não termina de uma hora para outra. Nunca acontece. Com certeza, vinha se deteriorando havia tempo, apenas você não percebia ou se negou em aceitar a realidade. Mentimos para nós pela conveniência de não aceitar o desconforto da realidade que se modifica. Mentimos para os outros para que não nos vejam do jeito que somos. Se fugimos da realidade ou temos vergonha de quem somos, uma transformação urgente pede passagem. Não há razão para impedir”. 

Pedro fez sim com a cabeça sem dizer palavra. Em seguida, voltamos às atividades. Aquele foi um dos seus melhores ciclos de estudos na Ordem. Participou das aulas, fez novas amizades, conversou com todos os monges, estava sempre com bom humor e com vontade de colaborar. Pedro estava com a percepção e a sensibilidade apuradas em busca de um novo ponto de equilíbrio. Isto é fundamental. Pediu para ministrar uma das palestras, na qual fez uma interessante abordagem sobre a famosa Lei da Química elaborada por Antoine Lavoisier, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, e a sua correlação com as inevitáveis transmutações para a Lei da Evolução Cósmica. Foi merecidamente aplaudido. Havia uma evidente ebulição dentro do Pedro, típica das transições de um estado da matéria para outro, segunda a Química, ou de um estágio do espírito para outro, segundo a Evolução.

No ano seguinte, eu aguardava chegada dos monges para um novo período de estudos e reflexões. Sentado na cantina diante de uma caneca fumegante de café, pensava em como teria sido as reações de Pedro diante dos acontecimentos, movimentos determinantes para estabelecer o fluxo da alegria ou da agonia dos seus dias. O seu nome não estava na lista de inscritos para aquele ciclo, mas ocorria, por vezes, de alguns monges chegarem em cima da hora e tentarem o ingresso. Quando havia vaga, se tornava possível. Pedro não apareceu. Passadas duas semanas, eis que surge no mosteiro. 

Estava animado, sorridente e confiante. Depois de um forte abraço, brinquei ao dizer que após quinze dias era impossível qualquer encaixe. Ele riu e disse que tinha ido por outros motivos: “Um novo ciclo de estudos ficará para o ano que vem. Desta vez, vim por diferentes razões. Para que possa entender, inicialmente preciso contar sobre o que aconteceu desde que nos despedimos no período passado. De fato, a Laura e eu nos separamos. Ela já está morando com outra pessoa e está muito feliz. Diria, até mais bonita. Somente o amor nos concede a beleza intrínseca, difusa e única que refletimos para o mundo”. Interrompi para dizer que ele também estava mais bonito. Eu não falava para agradar, eram honestas as minhas palavras. Pedro agradeceu e eu pedi para que prosseguisse. Ele continuou a contar: “Ao me permitir que o amor que eu nutria pela Laura, como esposa, se transformasse em amizade, ganhei não apenas uma amiga fantástica, mas não transferi aos meus filhos nenhum sofrimento pela ruptura do nosso casamento. Ao nos ver bem, eles ficaram bem sem que houvesse prejuízo em suas rotinas. Tenho sido levado a muitas reflexões sobre os relacionamentos e percebo que a negligência no trato é uma das causas mais comuns à sua deterioração”. Pedro fez uma analogia: “É como a maresia, você não liga porque não nota o seu poder silencioso de destruição e, quando se dá conta, tudo ficou enferrujado. Ficarei mais atento para não incorrer nos mesmos equívocos daqui em diante”. Lembrei a ele da sua palestra sobre o químico francês: “Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Rimos. Ele acrescentou: “De certa forma, a transformação é o verdadeiro poder da criação. A evolução”. Concordei.

Eu quis saber sobre o seu emprego na multinacional. Pedro explicou: “Aconteceu conforme eu fora avisado. Fui demitido logo que retornei ao serviço. Ao contrário do que imaginava, eu não fiquei triste. Percebi o fluxo da vida e entendi os movimentos de mudança que a vida me sinalizava. Foi maravilhoso o tempo que estive trabalhando na empresa, mas como todo ciclo, precisa de um fim para que outro se inicie. Do contrário, conheceremos a amargura ou o tédio da estagnação”. Perguntei sobre os acontecimentos posteriores à demissão. Ele narrou: “Cheguei a enviar o currículo para algumas empresas, mas ao perceber que aquilo não me trazia entusiasmo, entendi que chegara a hora de uma mudança mais ampla e profunda. Aprendi no mosteiro que todos os nossos movimentos precisam expandir o fluxo da vida, dentro e fora da gente. Temos de viver com alegria e entusiasmo. Aprendi também aqui que alegria surge da percepção das virtudes em sua vida; entusiasmo significa um ser vibrante pela própria alma”.

“Soube de uma francesa que tinha montado uma espécie de ashram, um tipo de retiro ligado ao aprimoramento do espírito, muito comuns na Índia, em uma pequena cidade localizada na Serra Cantareira. Além de hotel, oferecia cursos e práticas ligadas ao bem viver, desde cuidados com a alimentação e com o corpo até terapias e reflexões espirituais. Como a proprietária tinha que retornar a França por motivos familiares, o colocou a venda. Ora, eu tinha recebido uma boa indenização após vinte anos de serviço. Tudo me encantava naquele lugar, desde os traços simples da arquitetura que conferiam uma sofisticação minimalista ao local, até a fantástica influência da natureza ao redor. Melhor ainda, estava a poucas horas de São Paulo, cidade onde meus filhos continuaram morando com a mãe. Poderiam vir nos finais de semana para ficarem comigo. O mais importante, era a oportunidade de transmitir todos os benefícios que eu aprendi após tantos anos de estudos no mosteiro, que me foram fundamentais para não me deixar sucumbir em um momento angular da minha existência. Fui tomado por uma vontade arrebatadora. Fiz o movimento certo e a vida me envolveu em seu maravilhoso fluxo de Luz”.

Perguntei sobre novos amores. Pedro confessou: “Estou namorando uma professora de yoga. Ela fazia parte da equipe do hotel quando a conheci. Existe uma sintonia muito própria entre a gente. Temos os mesmos interesses e um olhar convergente quanto à vida. Estar ao lado dela alegra o meu coração. Eu a amo”. Fiz questão de dar-lhe mais um abraço. A felicidade é a percepção da evolução em movimento.

Olhou-me com seriedade e disse: “Quero muito agradecer por você não me deixar desistir da Luz. Aquela conversa que tivemos no ano passado foi primordial para a transição que alcancei”. Fui sincero com ele: “Em verdade, eu apenas não deixei que você esquecesse tudo que já sabia, algo comum quando as sombras se avizinham e tentam tomar o controle. Lembrei a você sobre o poder da sua própria Luz e da força que temos quando mantemos as raízes dos nossos princípios e valores fincadas no chão da verdade. Não haverá lugar para o medo nem nada será capaz de nos derrubar. Nisto reside toda força e poder”.

“No mais, quando a vida traz as transformações em forma de avalanche, tirando tudo de onde sempre esteve, é porque acredita que estejamos prontos para construir um novo lugar para viver. Um maravilhoso lugar dentro da gente. Basta que não esqueçamos da nossa força e poder, basta que não esqueçamos da nossa Luz. Basta que não esqueçamos quem somos e quem podemos ser. Sempre”.

Lembramos das sábias palavras do Velho, como carinhosamente chamávamos o monge mais antigo do mosteiro: “O problema não é a desgraça, mas quando esquecemos da graça”. Graça é o dom pessoal que nos torna capaz de superar qualquer dificuldade e seguir em frente.

Pedro lembrou que tinha vindo por mais um motivo: “No hotel, vamos iniciar um ciclo de cursos e palestras inspiradas nas vivências que tive no mosteiro. Quero compartilhar esse precioso conhecimento. Gostaria que você fizesse a palestra inicial”. Fiquei sinceramente emocionado. É muito bom olhar para trás e sentir o quanto avançamos na comunhão com os outros. Perguntei se ele tinha ideia de qual assunto a palestra deveria versar. Pedro tinha tudo preparado: “Gostaria que o título fosse Os rugidos ao redor”. Falei que não tinha entendido. Ele esclareceu: “Os rugidos ao redor não são causadores dos meus medos. Estar aprisionado em mim mesmo, sim; estar distante da minha essência, sim; não ter fincado as minhas raízes no solo da verdade, sim; esquecer como fazer para acender a minha luz, sim. Esses são os equívocos que nos fazem ter medo quando o mundo ruge. Nada do que há lá fora pode me assustar. O amor que tenho me ilumina e me protege no Caminho. Viver a minha verdade são as minhas raízes, flores e frutos. Nada me falta porque tudo sou”. 

Abri os braços e disse que a palestra estava pronta. Brinquei ao dizer que não existia mais motivo para a minha presença. Rimos. Abraçados, fomos para a cantina celebrar aquela bela transição com duas canecas fumegantes de café. 

6 comments

Adriano Camargo outubro 25, 2020 at 8:41 am

Gratidão! Me lembrou que nunca devemos nos esquecer de nossa essência. Está tudo lá, do que precisamos para continuar nossa caminhada.

Reply
Gleiza Jordânia novembro 2, 2020 at 2:38 pm

Gratidão sempre… 😊🌟🌟🌟

Reply
marcio novembro 5, 2020 at 2:29 am

O amor, a harmonia e a verdade são credenciais para evolução do espírito!

Reply
SCHWEITZER novembro 9, 2020 at 4:22 pm

Deliciosa estória.

Reply
Adélia Maria Milani dezembro 31, 2020 at 10:24 am

Gratidão!!!!

Reply
Nanci Ivete Raminelli janeiro 25, 2021 at 2:26 pm

Amei a estória e a voz da Paula… é muito bom encontrar com pessoas que transitam pelos mesmos caminhos da compreensão e entendimento que nós…

Reply

Deixe um comentário para Adélia Maria Milani Cancel Reply