TAO TE CHING

TAO TE CHING, o romance (Quadragésimo quarto limiar – Os domínios do tempo)

Central Park, Nova Iorque. Um lugar que fala à memória afetiva de muitas pessoas. Desconheço o exato motivo. O outono desfolha as árvores, formando um lindo tapete de folhas secas e avermelhadas; o vento frio penetra pelos poros acordando a alma para participar da dança da vida. Vaguei pelas alamedas e gramados com aquela sensação maravilhosa de quando estamos encantados pelas infinitas possibilidades a serem oferecidas pelos dias que virão. Andei e andei até que vi um homem ao longe. Sentado no gramado, com violão ao punho, parecia cantar para multidões. Não havia ninguém por perto. Ao me aproximar, ele sorriu. Sentei-me ao seu lado. Comentei sobre cantar para um público que não estava ali. O homem deu de ombros e disse: “Canto com o coração. Não importa que ninguém veja ou saiba. Todos os movimentos realizados pela alma reverberam em luz até os locais mais longínquos do planeta. Mesmo sem entender o motivo, muitos se beneficiarão. Isto me basta e alegra”. Falei que as orações também têm esse poder. Ele concordou: “Sim, o nosso coração se desdobra em gotas de chuva a irrigar solos áridos todas as vezes que o lançamos ao céu. A oração com palavras são as mais conhecidas e usadas; há muitas outras maneiras de realizarmos essa conexão com as Terras Altas. Todas as vezes que a fazemos, um portal se abre entre os dois mundo, refinando a percepção e a sensibilidade para aprendermos, ou lembrarmos, sobre as nossas prioridades”.

Indaguei sobre a importância das prioridades. O homem explicou: “As prioridades definem os caminhos que cada indivíduo irá trilhar. Ninguém chega ao destino certo percorrendo a estrada errada”. Pedi para que explicasse melhor. Ele foi direto ao ponto: “O que é mais importante, a fama ou a virtude?”, perguntou. A resposta era fácil; eu preferia me tornar um sujeito virtuoso. O cantor franziu as sobrancelhas e disse: “Sim, nove entre dez pessoas dariam a mesma resposta. No entanto, apenas uma entre as dez fariam escolhas condizentes àquilo que entendem como correto. Há sinceridade no trato da verdade ao dialogarem com a alma, mas fraquejam no momento da decisão. Assim, agem de maneira desonesta, não quanto a moral vigente na sociedade, mas na relação ética, sempre personalíssima, entre princípios, valores e escolhas que cada um precisa ter consigo mesmo. De pouco adianta estar repleto de boas intenções se falta coerência entre o ideal e a ação”. Divertiu-se por instantes com pequenos esquilos que subiam em uma árvore próxima antes de prosseguir: “Fazer o bem é uma oração poderosa; portais se abrem entre esferas interdimensionais, possibilitando que a consciência se refine e expanda”. Em seguida, quis saber: “Caso tivesse salvado uma criança de um desastre e, logo após, jornais e canais de televisão quisessem saber quem foi o herói, você se apresentaria?”. Falei que não via nenhum mal nisso. Ele concordou em parte: “Não há nada de errado, apenas que a luz do amor seria substituída pelos holofotes da popularidade; a oração se encerraria, fechando a ponte entre dimensões. Você daria entrevistas, receberia homenagens e seria aplaudido nas ruas”. Olhou-me com compaixão e questionou: “Em verdade, o que ganharia com a fama posterior aos bem praticado? O reconhecimento público o tornaria um homem melhor?”. Sem precisar de uma resposta, continuou: “Ainda que falasse eu não fiz nada demais, eu sou um homem como outro qualquer ou fiz apenas a minha obrigação, as palavras humildes serviriam como mera fantasia à vaidade; os vaidosos enrustidos a adoram pelos enganos que causam neles mesmos. A luz escapa ao menor descuido; as sombras seduzem por intermédio do brilho para atrair ou manter os tolos na escuridão”. Confessei que nunca pensara sob esse prisma. Falei que me lembraria daquela conversa caso uma situação parecida ocorresse comigo. O homem me corrigiu: “A vida não acontece nas solenidades; ela acontece enquanto devaneamos à espera dos espetáculos nos quais seremos a estrela do show. Os momentos angulares da existência ocorrem nas situações banais do dia a dia, nas relações com aqueles que nos afinamos assim como diante de quem desafinamos. Encontrar o tom e o ritmo exato de cada movimento compõe a sinfonia da evolução. Melodia e música ou barulho e ruído. Você, assim como todas as pessoas, de diferentes maneiras e níveis, pratica o bem. A caridade tem muitas faces. Você conversa sobre as suas boas ações com os seus amigos?”. Respondi que sim. O homem fez um gesto com a mão como para ressaltar e lembrou: “Qualquer lugar serve aos espetáculos da imaturidade. O sol não faz alarde ou propaganda por encerrar a noite.  O silêncio é a canção da luz e da alma”.

O homem prosseguiu: “A falta de coerência entre ideias e atitudes demonstra quanto uma vontade ainda é frágil na consciência. Inventamos desculpas vadias através de raciocínios tortuosos para justificar a fraqueza e as mentiras. As prioridades se revelam através das escolhas; tudo mais são discursos vazios. Existem diversas modalidades de riqueza; cada pessoa tem o direito de ir em busca daquela que lhe dará prazer, a que se mostrar mais preciosa aos seus olhos. A verdade ou o dinheiro, qual deles vale mais?”. Devolvi o questionamento com outro. Ponderei que ambos poderiam se alinhar sob um mesmo eixo. Ele concordou: “Sem dúvida. Não são necessariamente antagônicos, porém, muitas vezes se apresentam em lados opostos. Neste caso, por qual você se decidiria?”. Perguntei como ele definiria a verdade. O homem foi pedagógico: “A verdade é a última fronteira já alcançada pela sua consciência. Logo, a verdade é dinâmica por se expandir ou se estreitar na exata percepção e sensibilidade que o indivíduo possui sobre si mesmo, a vida que o permeia e se manifesta ao redor naquele momento existencial. Em outras palavras, a verdade se revela à medida que a consciência floresce. Enquanto a consciência estiver embotada, a verdade restará amiudada; conhecer parte da verdade é causa de muitos enganos. Evoluir é aprimorar gostos e sabores”. Interrompi para sanear uma dúvida. Pelo que eu tinha entendido, ninguém conhece a verdade sem antes conhecer a si mesmo. O cantor disse sim com a cabeça e acrescentou: “Entender sobre os próprios prazeres, qual deles está no topo da escala de valores, permite compreender a distância que cada pessoa está da própria essência. Para alcançar o desejado ponto de equilíbrio e força se faz indispensável acessar a verdade e as virtudes, algo impossível de acontecer enquanto o indivíduo se negar a enfrentar os cantos escuros que ainda dominam as suas escolhas sem que ele se dê conta. Faz necessário entender quais combates e vitórias almejamos; fama e dinheiro ou verdade e virtudes. Quando alinhados sob um mesmo eixo, as decisões não requerem nenhum grau de dificuldade; nas situações que se apresentam em lados opostos, a vida separa os tolos dos sábios. Apenas na maturidade da alma compreenderemos a diferença entre ganhar e perder. As multidões ainda não conseguem discernir uma situação da outra”.  

Argumentei que qualquer pessoa sabia a diferença. O cantor sorriu e perguntou: “Ganhar ou perder, o que é pior?”. Respondi que ganhar é melhor, era óbvio. Ele ponderou: “Nem toda vitória enobrece, nem toda derrota derruba. Nos combates do cotidiano, se faz imprescindível entender se lutamos pela luz ou pelas sombras; uma compreensão nem sempre fácil. Qualquer batalha que travamos no mundo, antes, precisa de um intenso duelo interno para descobrirmos a quem verdadeiramente favoreceremos naquela luta. Luz e sombras guerreiam na mente sob a influência do coração para definir quais armas usaremos a cada movimento. Em simbiose constante, ideias e emoções são fatores determinantes para elaboração de todas as decisões, ao oferecer clareza ou nebulosidade à verdade do indivíduo.  Até onde vai o meu direito? Qual o limite devo impor? Até onde posso ceder? Do que nunca devo abdicar? É legítimo exigir algo de alguém? O que quero conquistar? Qual das riquezas está na ponta mais alta da minha régua de prioridades? Eu me movo com coerência aos meus princípios, valores e verdade? Com qual constância? Os meus atos são condizentes às minhas palavras? Se entendo que justiça e privilégios são antagônicos, como ajo quando uma situação ou lei me favorece em detrimento de alguém? Reajo com compaixão e serenidade ou com intolerância e irritação diante das contrariedades?” Fez uma pausa para eu concatenar o arco filosófico e continuou: “Venço quando esmago o oponente para alcançar determinado objetivo externo ou ao modificar algo dentro de mim capaz de me iluminar e levar aonde nunca fui em minhas andanças intrínsecas, um lugar onde o diálogo com a alma se intensifica?”. Calou-se por alguns instantes e arrematou: “Em verdade, muito pouco sabemos sobre ganhar e perder”.

Um vento leve revolveu as folhas no chão. Ele esperou assentar e falou: “Entender sobre ganhar e perder, vitórias e derrotas, erros e acertos é fundamental para nos libertar das prisões do medo e dos cárceres do sofrimento; todos são frutos de uma mesma árvore, a incompreensão. Tudo que desconheço em mim será fonte de conflitos, enganos e insegurança. A falta de entendimento e aceitação sobre si mesmo é o maior dos adversários que qualquer pessoa encontrará. O processo de autoconhecimento é uma longa, difícil, porém, belíssima viagem de descobertas, encontros e conquistas internas; uma jornada de retorno à essência, a autêntica identidade despida dos personagens inventados na ilusão de nos proteger dos medos e sofrimentos. Para tanto, será necessário descobrir tudo aquilo que restou mal construído na mente e no coração; do contrário, seguiremos guiados por ideias e emoções derivadas de experiências elaboradas de modo equivocado; isso resulta em enganos e embaça a verdade; mapas errados e nevoeiros são as causas dos nossos tristes desastres. À medida que desconstruo as partes mal erguidas, encontro pedaços desconhecidos de quem sou. Alegro-me e me reconstruo passo a passo até me tornar inteiro. Cada um desses movimentos equivale a uma legítima conquista, uma riqueza a salvo de mofo, furtos e ferrugem. Quando os conflitos internos desparecem, os externos perdem a razão de existir; restam conosco somente o legado do amor e da sabedoria.”.

“Contudo, ninguém consegue percorrer essa estrada sem entender a importância das prioridades, tampouco sem conhecer mais e melhor sobre erros, perdas e derrotas. Os famigerados e assustadores fracassos, desde que bem elaborados, se tornam mestres inigualáveis. Ao serem processados com os elementos da verdade e das virtudes, sem desculpas e arrogância, os erros servem como forjas evolutivas nas quais esculpiremos a pessoa que queremos nos tornar. Não existe método mais eficaz”. Empunhou o violão para cantar uma bonita canção que contava uma triste história de um homem que sofria por amor. Ao terminar, me perguntou se havia algo de errado na música. Respondi que não. Ele me corrigiu: “Quem se apaixona, sofre. Quem ama se coloca onde o sofrimento não alcança”. Diante do meu espanto, explicou: “Ninguém sofre por amor. O motivo é simples, o amor compreende a vontade de ir e de ficar; orienta, conversa, mas não domina; aceita que os desejos de duas pessoas nem sempre são compatíveis. Somente assim conseguiremos compreender e, mais importante, sentir a autêntica sensação de liberdade que o amor proporciona”. Fez um gesto com a mão, como para ressaltar as palavras, e acrescentou: “Nem todo querer é amor. As paixões são resultantes das sensações de insaciedade provocadas por um abismo intrínseco que distancia o ego da alma, dificultando, e até mesmo impedindo em alguns casos, o diálogo fundamental à evolução. Agoniados e perdidos, tentamos preencher esse vazio com pessoas, coisas, lugares e festas. A sensação de completude é rasa e fugaz; sem demora, a angústia retorna, o abismo aumenta. Derivada das incompreensões, movida por ideias imperfeitas e alimentada por emoções egoístas, as paixões são fontes ininterruptas de sofrimento”.

“De outra face, o amor, embora intenso, é suave e manso. Apesar de impor limites para que as relações não sejam abusivas, o amor não briga nem se impacienta. Oferece com carinho, trata com justiça, sabe a hora do sim e o momento do não; os seus movimentos são firmes e doces a um só tempo. O amor nada cobra nem exige algo em troca; ele se completa no ato sem qualquer dependência do resultado. Uma das grandes causas de sofrimento é a insistência insensata para que o outro se ajuste aos nossos desejos. Se houver barulho, ruído e conflito é paixão; se for silencioso, leve e transformador é amor”.

Em seguida, cantou outra música. A composição falava de uma mulher que por recear os erros e as frustações, não ousava se arriscar. Temia sofrer; então, se fechara para a vida. O homem explicou: “Quem muito receia, acumula perdas. Não há como se encantar com a magia e os mistérios da vida sem correr riscos. As oportunidades nem sempre se apresentam como uma estrada pavimentada, com sinais de fácil entendimento e utilizada por motoristas com alto nível consciencial. Isso dificilmente acontecerá. Não raro, o piso será esburacado e viajaremos à noite para aprendermos a andar sob quaisquer circunstâncias; a sinalização nem sempre estará à disposição na beira do caminho, mas terá de vir da alma para que saibamos nos guiar pela nossa própria luz; teremos de trafegar entre motoristas que virão na contramão para compreendermos a importância de fluir por entre os inevitáveis obstáculos, pois, do contrário, nada conheceremos sobre a suavidade e a leveza indispensáveis ao prosseguimento da viagem”. Colocou o violão ao lado e ressaltou: “Claro, há que se ter precaução e sensatez. Atirar-se do precipício acreditando que asas inexistentes irão nos sustentar não é fé, é imaturidade. Nem toda loucura é genial, nem todo risco é coragem. Contudo, não há pior conselheiro do que o medo; ele impede que a vida aconteça. Temer o pior nega acesso ao melhor; tudo que poderia acontecer restará abandonado”. Interrompi para perguntar qual a diferença entre medo e precaução. Ele foi didático: “O medo diz: fique onde está, senão a vida o devorará. A precaução fala: tenha cuidado com as escolhas nas bifurcações da estrada, ande devagar, confie na própria luz e jamais deixe de seguir em frente”.

Franziu as sobrancelhas e disse: “Um dos grandes perigos da estrada são as paisagens. Lindas e atraentes, desviam o viajante do caminho e o afastam do destino”. Pedi para que explicasse melhor. O homem disse: “A maior parte das pessoas vive na agonia por aquilo que não tem. Não que o conforto seja errado, proibido ou pecado; não são dessas bobagens que falo. Refiro-me ao que cabe na bagagem na viagem rumo às Terras Altas. Sem darmos conta, todos os dias são perfeitos para acrescentarmos algo mais que servirá de salvo-conduto para os trechos seguintes. A bagagem do viajante é o próprio viajante. Para a sobrevivência, o suficiente basta. Possuir boas condições financeiras não significa prêmio, merecimento ou vitória. O que excede, assim como o que falta, é ferramenta. Tão e somente. Porém, não são ferramentas quaisquer. O excesso ou a escassez de dinheiro são delicados instrumentos que necessitam de extrema habilidade para que sirvam às transmutações evolutivas”.

A voz do homem era pausada e tranquila para que não me restasse qualquer dúvida: “O dinheiro é a paisagem que mais causa desastres nas estradas pela distração, desejo e agonia que provoca. Como fonte de poder social, permite acesso a coisas e lugares cobiçados. Pode-se comprar muito, mas nem tudo está à venda. A verdadeira riqueza está onde o dinheiro não tem poder. É possível se revestir de brilho, mas é impossível pagar por um pouco de luz. Então, mesmo morando em um castelo com mil lâmpadas, o indivíduo viverá na escuridão enquanto não entender que o dinheiro, como todas as outras coisas que existem no mundo, é apenas instrumento de polaridade neutra, nem bom nem ruim. A maneira com que será usado determinará a sua carga positiva ou negativa”.

“Vale ressaltar que orgulho e vaidade não são exclusividade de nenhuma classe social ou profissional. Existem em todos os lugares. A participação das sombras a moldar o comportamento das pessoas está ligada ao despertar da alma, independentemente de qualquer aspecto externo ao indivíduo. Na escuridão de uma alma esquecida, a visão se apequena, o medo se agiganta. Na incapacidade de confessar os seus desequilíbrios e fragilidades intrínsecas, nem mesmo para si mesmo, aceitam a solução oferecida pelas sombras pessoais: os escudos da soberba e da arrogância para que nada descubram sobre a sua miséria existencial, sem importar se têm muito ou pouco dinheiro. Para o orgulhoso, a mera menção de algo que possa revelar uma verdade indesejada, um erro não corrigido ou uma dificuldade escondida será recebida como uma ameaça ou ofensa. Sentir-se-á diminuído ou arrancado do pedestal que se colocou para a admiração de todos; como se o público viesse a descobrir que a celebrada obra de arte exposta no museu é falsa. A humilhação é isso e, portanto, somente os orgulhosos e vaidosos estão sujeitos a essa sensação. O humilde está à salvo da humilhação. Como não divulga as suas virtudes, não faz alarde dos seus feitos, está sempre disposto a se retratar e reparar os próprios erros, não carece de aplausos ou aprovação, consegue voar além do alcance das pedras maledicências. Nem mesmo a verdade o derruba; ao contrário, ao ser exposto a erros e dificuldades que até então desconhecia em si, agradecerá a oportunidade de regeneração oferecida naquele momento. Caso as críticas se mostrem insensatas, não se aborrecerá nem se magoará. Sabe que o interlocutor fala sobre as próprias incompreensões, sem qualquer nexo ou compromisso com a verdade. Afinal, não podemos deixar que a bagunça dos outros desarrume a nossa casa”. Abriu os braços como se falasse o óbvio e esclareceu: “Não importa as dimensões e arquitetura da casa onde passamos os dias; em verdade, cada pessoa mora em si mesmo. A estrutura dessa moradia sem aço nem tijolos tem como alicerces as virtudes e a verdade já conquistadas pelo morador. Uma casa sem alicerces estará sempre vulnerável às tempestades”.

Comentei como era desagradável conviver com pessoas irritadas, intolerantes, irascíveis e ruidosas. O homem concordou: “Sem dúvida, são um insulto à alma; as delas e as nossas. Mas há que se ter compaixão; elas não sabem disso. No entanto, limites são imprescindíveis, pois, evitam os perigos. Sem limites não existe respeito. Aprenda a abrir e fechar portas diante de pessoas e situações. Por se tratar de um direito, não de uma concessão, o respeito é uma atitude que parte do indivíduo em direção ao mundo; é um ato primordial de amor-próprio. Por ser amor, exige postura, nunca conflito”. Falei que as pessoas deveriam respeitar umas as outras. Tudo seria mais fácil. Ele sorriu e disse: “O mundo é perfeito, não para férias, mas para o aprendizado e a consequente evolução. Enquanto o ciclo de estudos não terminar, ficaremos restritos aos domínios do tempo em sucessivas existências. O espírito continuará limitado a estreiteza do corpo físico, repleto de conflitos e mágoas, entre medos e sofrimentos. Libertar-se dessa esfera densa exige merecimento. Evolução se traduz em luz; não espere que a acendam para você; jamais acontecerá. Não por maldade, mas por falta de sentido; a razão de existir de uma escola é o aprendizado”. Perguntei como me graduar. Ele explicou: “Conheça a si mesmo para conhecer a verdade. Use a verdade para pouco a pouco extrair do seu âmago cada uma das virtudes e as usar em gestos mansos e movimentos silenciosos. Somente assim as paredes do tempo se desmancham. Enquanto não acontecer, significa que a viagem para trazer à tona a própria essência ainda não terminou”.

Em seguida, dedilhou uma canção de sucesso nos anos 1970. Fazia parte da trilha sonora da minha adolescência. Fechei os olhos e cantei junto com aquele homem de cabelos compridos e óculos de aros redondos. Na minha mente, uma linda mandala me convidava a prosseguir aquela estranha viagem. Segui em frente.

Poema Quarenta e Quatro

O que é mais importante, a fama ou a virtude?

A verdade ou o dinheiro, qual vale mais?

Ganhar ou perder, o que é pior?

Quem se apaixona, sofre.

Quem muito receia, acumula perdas.

O suficiente basta.

O humilde está à salvo da humilhação.

Os limites evitam os perigos.

Assim as paredes do tempo se desmancham.

3 comments

Juliana junho 23, 2023 at 2:41 pm

Há muito tempo não vinha aqui beber água da fonte. Gratidão imensa pelas lições tão bem desenhadas. Como sempre, ao final do texto, saio transformada. Que as bênçãos de Deus esteja sempre convosco.

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Rhodolfo julho 6, 2023 at 8:16 pm

Gratidão! 🙏😍

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Terumi julho 30, 2023 at 12:49 am

Gratidão 🙏

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