MANUSCRITOS VII

A verdade imatura

As noites em Sedona, nas montanhas do Arizona, são frias no outono. Canção Estrelada, o xamã que tinha dom de compartilhar a sabedoria ancestral do seu povo através de palavras e cantigas, apagou as luzes da varanda para que pudéssemos conversar sob a inspiração de um céu repleto de estrelas. Enrolei-me em uma manta para me aquecer; o xamã encheu de fumo o fornilho de pedra vermelha do seu indefectível cachimbo. A conversa seria longa. Eu precisava entender sobre a exata aplicação da verdade. Embora soubesse que as virtudes e a verdade fossem fontes de equilíbrio e força quando aplicadas corretamente, à incompreensão da verdade pode levar ao mal uso das virtudes por as envolver em sombras. “A compreensão da vida não se resume em uma única equação”, disse Canção Estrelada enquanto baforava o cachimbo, dando início aos diálogos daquela noite. Discordei. Falei que poderíamos definir o amor como sendo o caminho e o destino, sem o qual o sentido da vida se esvai pelos bueiros dos dias. O xamã arqueou as sobrancelhas e ponderou: “Afirmar que o amor deve pautar não apenas os gestos, mas também ideias e sentimentos é um conceito irretocável”. Em seguida, argumentou: “No entanto, viver o amor tem níveis, nuances e sutilezas. Amar, em maior ou menor grau, todos amam. Mesmo os facínoras amam os seus filhos, parentes ou animais de estimação. Ninguém é completamente desprovido desse sentimento vital. No entanto, aprender a amar mais e melhor é a arte da vida; essa escola na qual aprendemos, é também a oficina onde teremos de realizar aquilo que nos foi ensinado. Não somos o que sabemos, mas a exata medida do que fazemos”.

Baforou o cachimbo e continuou: “Sim, sem dúvida, o amor é o eixo dorsal da vida. Contudo, esse eixo tem escalas como toda métrica ou como qualquer viagem. Assim também acontece com a verdade. O amor precisa da sabedoria para evoluir; por sua vez, sabedoria sem amor se verifica nas situações em que o conhecimento é usado na tentativa de justificar egoísmos, erros e maldades. Diferente não é com a verdade. As virtudes são os pontos de encontro do amor com a sabedoria, movendo o viajante através da luz com suavidade e leveza. Porém, as virtudes perdem a utilidade quando dissociadas da verdade; de nada servem as velas estufadas ao vento se a noite tempestuosa esconde as estrelas que servem de orientação; enormes são as chances de seguirmos na direção errada. É hora de recolher as velas, lançar âncora e aguardar; faz-se necessário conversar com o silêncio e a quietude até que o nevoeiro se dissolva”. Fez uma pausa antes de concluir: “De outro lado, para quem já consegue ver as estrelas, mesmo quando escondidas sob espessas camadas de nuvens, nem mesmo os ventos traiçoeiros dos temporais são capazes de impedir os necessários avanços nos mares das dificuldades. Ao contrário, os vendavais os conduzirão ainda mais rapidamente a um inusitado e seguro destino”. Perguntei se as virtudes são as velas; sendo a verdade o leme da embarcação que somos. Canção Estrelada respondeu que sim com a cabeça e acrescentou: “Por todo tempo, o mundo fornece os ventos e as marés por intermédio das nossas relações e acontecimentos do dia a dia. Fatos e situações que, ao contrário do que muitos acreditam, nenhuma responsabilidade tem com o sucesso da viagem. A travessia prossegue para o trecho seguinte todas as vezes em que viajante amadurece uma pouco mais da verdade em si”.

Argumentei que, embora o assunto estivesse longe de se esgotar, já faláramos bastante sobre as virtudes em outras conversas. Era hora de entender um pouquinho mais sobre a verdade. Antes de iniciar, perguntei como ele conceituava a verdade. O xamã não fugiu ao questionamento: “É a última fronteira alcançada pela consciência”. Ponderei que os níveis percepção e sensibilidade, pilares centrais da consciência, mudam a cada experiência vivida. Logo, a verdade se expandirá na exata medida da consciência, sendo infinitamente mutável. Canção Estrelada explicou: “Exatamente. Isso faz com que a busca incessante pela verdade nos conduza a infinitas transformações intrínsecas para que melhor possamos nos adequar a cada novo olhar, se tornando, assim, a base da evolução. O sentido da vida”.

Nesse momento, fomos surpreendidos pela chegada de Anakin, filho de um grande amigo de Canção Estrelada. Ele foi recebido com alegria e convidado a se sentar conosco na varanda. O rapaz, com cerca de trinta anos de idade, a pedido do pai, viera conversar com o xamã. Alguns acontecimentos recentes fizeram que a sua vida, até então conduzida com equilíbrio e serenidade, tivesse virado ao avesso. Era preciso entender o ocorrido; ou melhor, as causas que geraram o efeito devastador e inexplicável na vida do rapaz.

Eu conhecia Anakin. Estivera com ele por diversas vezes, desde a sua adolescência, em festividades, cerimoniais ou mesmo na casa do seu pai. Desde garoto se mostrara gentil, generoso e justo. Todos gostavam dele. Lembrava que ele saíra de Sedona para estudar arquitetura na Universidade de Phoenix. Não sabia de mais detalhes; tudo mais foi relatado naquele momento. Ainda na faculdade, iniciara o estágio em uma das mais prestigiadas firmas do país, responsável por projetos de grande porte, como aeroportos, hidrelétricas e museus, sendo conhecida pelas suas linhas e formas arrojadas. Ao se graduar, por merecimento, fora integrado ao quadro de projetistas da empresa. Tinha um bom salário, permitindo a ele um padrão acima da média de outros jovens da mesma idade. Estava bem integrado à empresa, cujos traços ousados dos projetos sempre o encantaram. Contudo, tinha uma paixão secreta. Queria projetar casas e prédios urbanos modernos e funcionais, capazes de aliar a dificuldade de espaço das grandes cidades com uma ótima qualidade de vida, sem esquecer a elegância dos seus desenhos. Não queria apenas revolucionar as formas das construções, mas o modo como o morador se relacionaria com a sua habitação. Esta paixão movia os seus dias. Sem dizer nada a ninguém, se mudou do apartamento onde morava em Phoenix e foi morar em uma casa recém-comprada. Assumira o compromisso de uma hipoteca bancária para dar esse passo inicial. Na garagem montou um estúdio de arquitetura; ali plantara a semente do seu sonho, sem, no entanto, deixar a empresa na qual trabalhava. Ainda não podia abdicar do bom salário. O primeiro projeto autoral foi planejar uma pequena escola do bairro para atender alunos com necessidades especiais. Trabalhou de madrugada e nos finais de semana; foram muitas noites sem dormir, debruçado sobre a prancheta, pensando e repensando ideias. Criou acessos de mobilidade nunca imaginados. Foi muito elogiado pelo trabalho apresentado. Os honorários recebidos por esse projeto foram investidos em uma bela reforma no estúdio. Assim teria as condições perfeitas para angariar clientes de maior porte. Pelos seus cálculos, outros três ou quatro projetos decretariam a sua independência financeira, podendo se desligar da firma para se dedicar ao estúdio em tempo integral. A vida era um oceano tranquilo e ensolarado; era possível avistar o último porto do horizonte.

Assim como as tempestades que se avizinham trazidas por ventos traiçoeiros, tudo mudou de uma hora para outra. Na empresa em que Anakin trabalhava havia por hábito a distribuição de um bônus anual referente aos lucros auferidos durante o período, proporcional ao cargo ocupado pelo funcionário. Como a empresa firmara bons contratos no último ano, o jovem estava certo de que receberia uma boa quantia daquela vez. Contava com o dinheiro para, desta vez, reformar a parte da casa em que residia. O estúdio estava perfeito, mas a casa deixava muito a desejar; sentia-se constrangido em receber os clientes no belo estúdio montado na garagem, enquanto a casa caía ao pedaços. Ninguém acreditaria em um arquiteto incapaz de morar em uma casa que não apresentasse soluções criativas que ele próprio propunha; a sua casa deveria expressar as ideias, ou parte delas, que gostaria de implementar nos projetos dos clientes. Planejou uma linda reforma e contratou um novo empréstimo bancário para realizar a obra. Foi quando chegou a notícia de que não haveria dividendos naquele ano, uma vez que a empresa teve de fazer investimentos que reduziu a margem de lucro a zero. Explicaram que aqueles investimentos permitiriam lucros maiores nos próximos períodos, quando todos se beneficiariam ainda mais. Dois foram os problemas para Anakin: o aviso foi feito às vésperas da data de distribuição dos bônus; acostumado a tradição dos dividendos, ele assumira compromissos financeiros que teria dificuldades para pagar. Como se não bastasse, soube que os diretores mais graduados receberam os seus bônus normalmente; apenas os funcionários subalternos, os arquitetos entre estes, restaram excluídos; revoltara-se com a postura elitista e discriminatória da empresa. Decidiu pedir demissão. Não queria trabalhar onde não houvesse respeito por seus funcionários. Esta é a verdade que o guiava. Aprendera com os seus ancestrais que a verdade é inegociável. Fez a afirmação com os olhos marejados e o tom de voz alterado. Canção Estrelada nada disse.

A história seguiu. Horas antes de apresentar a sua carta de demissão, não por acaso, o seu pai telefonou. A intuição paterna dizia que algo não estava bem. Anakin relatou os fatos e a decisão que estava prestes a tomar. O pai pediu para que nada fizesse enquanto a serenidade não fosse restaurada em seu coração. “O rancor ofusca a verdade”, foi a síntese da orientação recebida. O filho respondeu que a vida conversa através de sinais; não restava dúvida de que aqueles acontecimentos representavam um sinal claro de que estava na hora de dar um grande passo. O estúdio estava montado; ali tinha tudo que precisava para iniciar um novo ciclo profissional. Conseguira um contrato para projetar a escola; tinha sido elogiado pelo trabalho realizado; nada o impedia de conseguir outros contratos. Aprendera também com os seus ancestrais que o medo nunca é um bom conselheiro. Desligou-se da empresa. Ao contrário do que previra, conseguira apenas um único contrato, e de pequeno porte, o impossibilitando de honrar com as suas dívidas. Passado alguns meses, o banco ameaçava retomar a casa e, por consequência, o estúdio localizado na garagem. Renunciara ao emprego; agora estava prestes a perder, não apenas o negócio, mas de ver o sonho desmoronar. Nada sobraria. Estava desorientado, confessou. Utilizou os melhores ensinamentos, mas a vida gargalhou deles para aplicar um golpe cruel. Navegava perdido em uma noite escura que parecia sem fim; velas rasgadas e leme quebrado. Precisava de ajuda, admitiu.

Canção Estrelada baforou o cachimbo, observou o bailar da fumaça por breve instante, e disse: “Toda ajuda é de orientação, nunca de execução. Posso servir de farol na escuridão, mas não sou capaz navegar outro barco que não seja o meu”. Franziu as sobrancelhas e avisou: “Questione tudo o que eu disser. O que não entender como verdadeiro, descarte. Ninguém conseguirá viver a verdade que não compreende ou aceita. O que os meus olhos veem não existe para muita gente; a recíproca também se aplica”. Fez uma pausa antes de continuar: “Do mesmo modo, não espere que eu diga o que você deve fazer. Isto jamais acontecerá. Vou oferecer a minha verdade; talvez sirva para expandir a sua e, assim, encontrará por si mesmo a rota e o rumo que seguirá daqui por diante. Ou poderá não servir para nada; não haverá nenhum problema se isto acontecer”.

Diante da anuência de Anakin, o xamã prosseguiu: “Uma fruta está madura quando cumpre todo o seu ciclo evolutivo. Ainda verde, terá o sabor amargo e ficará aquém da sua qualidade e potencial. O mesmo acontece com o uso da verdade; quando imatura, pode ter um gosto azedo. Não resta dúvida de que a verdade é inegociável como você afirmou há pouco. Trata-se de um dos alicerces de equilíbrio e força indispensáveis na construção de quem somos; a exata orientação para a correta aplicação das virtudes e motivo para o florescimento de outras ainda em semente, sendo, portanto, fator indispensável ao aperfeiçoamento espiritual. Fora da verdade as escolhas são inconsequentes; origem de todas as destruições pelo desequilíbrio que provoca. Restamos fragilizados. Na tentativa de encontrar forças para se levantar, recorremos as fontes aparentemente mais fáceis e poderosas; bebemos do orgulho, da vaidade, da ganância, do egoísmo, entre outras sombras. Lançamo-nos aos céus em voo longo se valendo de asas curtas. A queda é apenas uma questão de tempo”. Baforou o cachimbo e continuou: “Bebemos na fonte poluída dos enganos acreditando saciar a sede que temos pela verdade. Então, tornamos inegociável um equívoco que chamamos de verdade. Eis a mola propulsora dos maiores erros existenciais”.

O inteligente Anakin compreendia o raciocínio sem maior esforço. O arco filosófico de Canção Estrelada ainda estava em curso: “Você fez um importante movimento existencial baseado em uma verdade incontestável: o medo é um péssimo conselheiro. Sem entender os próprios sentimentos, incapaz de decodificar suas emoções densas, substituiu os seus nomes para justificar o ímpeto movido pelo rancor de não ter sido agraciado com o bônus de final de ano. Rompeu o que não estava na hora nem havia necessidade de romper. Ao assumir o compromisso sobre uma tradição da empresa, o que está longe de significar uma obrigação dela para com você, se sentiu no direito de se magoar ou, ainda pior, se ofender. Esqueceu-se que a obrigação é o salário, tudo mais é o que transborda do pote. Nesse ano, entenderam de adquirir novos potes; então, nada sobrou. Não é uma questão de certo ou errado, mas de estratégia empresarial, que podemos concordar ou não, mas é um direito dos seus gestores, jamais sendo motivo para mágoas ou para se sentir ofendido. Contudo, essa não era a sua necessidade nem o seu desejo; tampouco, os seus planos. Foi mais fácil se creditar vítima da situação do que ter a maturidade de admitir que se apressou em assumir dívidas. O rancor é a sensação de intensa aversão a uma situação vivida; um ressentimento doloroso que pode ter causas justas ou injustas; que nada importam diante da inversão de sentidos e mascaramento da verdade que proporciona. O rancor vira a verdade ao avesso pela incompreensão que não conseguimos desmontar; assim permanecerá enquanto essa emoção densa nos dominar. Construímos raciocínios tortuosos para responsabilizar os outros por nossas limitações; trocamos os nomes das sombras pelo das virtudes para justificar uma verdade inexistente. O embaralhamento e a confusão instalam um reino em nossa consciência. Amiudamos ao invés de crescer”. Deu de ombros como se falasse o óbvio e disse: “O rancor é um conselheiro tão ruim quanto o medo”.

O vai e vem da cadeira de balanço do xamã parecia acompanhar o compasso das suas palavras: “Por fim, outra boa ideia mal aplicada: a vida fala por sinais. Sem dúvida que esse diálogo é intenso, ininterrupto e extremamente valioso. No entanto, interpretar os sinais requer capacidade para usar o exato decodificador. Vários são os olhos usados para ler os sinais. Não raro, confundimos intuição com medo ou desejo; falamos de coragem quando na realidade somos movidos por raiva; a pressa da imaturidade nos faz perder a sensatez essencial à coragem; gritamos por justiça com o coração movido à vingança ou outros interesses obscuros”. Olhou para o céu salpicado de estrelas e disse: “Falamos de falta de respeito na tentativa de justificar as nossas frustações. Assim como nós, todos têm o direito de dizer sim ou não, partir ou ficar”. E concluiu: “Longe de mim, distante da verdade”. Ao perceber que o jovem não tinha entendido essa última frase, Canção Estrelada explicou: “Sem conhecer quem somos, nada saberemos sobre a verdade. Fora da verdade todos os sinais conduzem ao abismo da existência”.

Anakin argumentou que o fato de a empresa ter bonificado os diretores, sem dar o mesmo tratamento aos demais funcionários, era uma atitude desrespeitosa. Canção Estrelada argumentou: “Ainda que movida por mero elitismo, é preciso entender se a reação é proporcional a causa. Bastava que se dirigisse a um dos diretores para saber sobre as razões que motivaram o pagamento dos dividendos para alguns em detrimento de outros. Depois de ouvir, refletir e, se entender imprescindível, poderia expor o seu ponto de vista, sempre de maneira gentil, tranquila e pacífica. Você teria esse direito, desde que sem se arvorar na empáfia de detentor da moral ou da verdade. Ainda mais importante, estaria vivendo a sua verdade sem qualquer necessidade de conflitos. Ele poderia discordar, pois, também tem esse direito, e apresentar os seus argumentos. Não raro, quando duas pessoas discordam, cada qual conhece apenas uma parte da verdade, como um mesmo objeto observado por ângulos distintos. Porém, a semente de uma verdade mais completa e robusta ficaria na consciência de ambos para germinar quando o solo estivesse fértil. Congregar é o ato amoroso de agregar alguém a nós; sem notar, ainda preferimos a arrogância de segregar”.

Em seguida, perguntou ao rapaz: “Na empresa existem cargos cujas remunerações e benefícios são inferiores aos dos arquitetos?”. Ele respondeu que o pessoal do setor administrativo recebia menos do que os profissionais da área de projetos. O xamã tornou a perguntar: “Como arquiteto, isso alguma vez o motivou a se desligar da empresa?”. O jovem disse não e abaixou a cabeça. Anakin começava a entender as inconsequências vazias da verdade imatura. Canção Estrelada prosseguiu: “Ao pedir demissão, você deu vazão ao rancor na ilusão de não negociar o inegociável, sem se dar conta que fazia um movimento impulsionado por enganos mascarados de verdade. Não menos grave, se esqueceu de todas as coisas boas oferecidas pela empresa, do quanto ela contribuiu para o seu desenvolvimento profissional. Em verdade, rasgou a si mesmo na tentativa de punir os outros pela frustração que sentiu. A fruta estava verde, o gosto foi amargo. A decisão tomada nada fala sobre a verdade, mas traduz as suas próprias incompreensões mantidas pelas emoções dolorosas que o dominam”.

Uma lágrima rebelde escorreu pelo rosto de Anakin. O xamã concluiu: “Há momentos que o rompimento é necessário. Entretanto, tamanha decisão necessita de um coração sereno e uma mente clara. Qualquer rompante, alteração no tom de voz, ansiedade ou impaciência revelam um coração bagunçado fazendo uso de uma verdade imatura”.

O rapaz disse não saber o que fazer; a sua vida beirava o caos, afirmou. Canção Estrelada ponderou: “O caos é do bem, pois, surge para destruir tudo aquilo que nos negamos a desconstruir dentro da gente, apesar de prestes a desabar por estar mal construído. Em qualquer caso, se faz necessário entender quem está no controle do poder primordial”. Anakin perguntou que poder era esse. O xamã explicou: “O domínio sobre si mesmo. Quando não identificamos os autênticos fundamentos das ideias e emoções que nos movem, fazemos movimentos que, ora não levam a lugar nenhum, ora nos fazem cair. Se as virtudes são as velas e a verdade é o leme da embarcação que somos, pensamentos e sentimentos são os ventos e as marés que precisamos conhecer; do contrário, jamais teremos controle sobre a embarcação. As piores tempestades não acontecem no mundo, mas dentro dos corações alimentados por verdades imaturas”.

Depois, finalizou: “O momento é de renascer. Para tanto, é fundamental que retorne à sua essência. Não esqueça os seus dons e talentos; eles permanecem intactos. Seja humilde para reconhecer os seus erros, mas também seja doce consigo para não se deixar maltratar por eles. Quando bem aproveitados, os erros são valiosas forjas evolutivas nas quais os mais importantes mestres moldaram as sua transformações angulares. Agradeça a oportunidade. Perdoe-se para que fique em paz com o seu coração; tire da mente qualquer ideia absurda de vergonha ou derrota, pois, nada mais são do que verdades imaturas. Preserve a sua luz; para isso você precisa apenas de si mesmo; das virtudes que já possui e da verdade renovada. O caminho de volta à essência é a trajetória perfeita do equilíbrio maduro e da força serena que você logo voltará a expressar no mundo”.

Ficamos algum tempo sem dizer palavra. Anakin precisava alocar aquelas ideias nos compartimentos da mente para acalmar a agitação do coração. Somente assim conseguiria se libertar das prisões dos enganos as quais estava encarcerado, sendo torturado pelas emoções dolorosas que o castigavam sem cessar. Toda reconstrução começa com o amadurecimento da verdade para se completar na transformação pessoal. Emocionado, o rapaz agradeceu ao xamã. Tinha conseguido entender alguns aspectos em si que desconhecia, movimento intrínseco fundamental ao renascimento. Canção Estrelada arqueou os lábios em sorriso e disse: “Benditos sejam aqueles que desvendam um pouco mais da verdade a cada instante; a eles será permitido renascer todos os dias”.

4 comments

MARCELLO MELLO SCHWEITZER abril 16, 2023 at 7:57 pm

O medo, depois o rancor, depois o desejo, é finalmente o desespero são os conselheiros da nossa dor.

Amei.

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Márcia Campos maio 3, 2023 at 12:56 am

Gratidão

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CRISTINA BOVI MATSUOKA maio 5, 2023 at 3:01 am

Aho

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Rhodolfo maio 25, 2023 at 12:01 am

Gratidão! 🙏🙏

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