MANUSCRITOS V

Um poder diferente

Estávamos debaixo do carvalho frondoso no quintal da casa de Canção Estrelada, em Sedona, nas montanhas do Arizona, onde as pessoas se reuniam para ouvir o xamã contar as histórias que continham a sabedoria ancestral do seu povo. Sentados em mantas coloridas espalhadas pelo gramado, todos estavam alegres por participarem daquele singelo, porém significativo, cerimonial mágico e sagrado. Magia, em essência, é transformação; sagrado é tudo aquilo que nos torna melhores. Aqueles momentos proporcionavam possibilidades de mudanças em todos os presentes. Canção Estrelada apenas contava histórias, nada mais do que isto. Contudo, possuíam tamanho conteúdo que nos levavam a reflexões profundas, permitindo maior clareza no olhar, movimento inicial para o aperfeiçoamento do ser e do viver. Desde que a oportunidade fosse bem aproveitada, é claro.

Como parte do ritual, ele começava rufando o seu tambor de duas faces em compassos suaves para arrefecer as agitações internas. Naquele dia, cantou uma canção em dialeto nativo, cujo significado eu desconhecia, mas que a melodia nos conduzia a uma agradável sensação de calma. Isto permitia maior receptividade para a compreensão das entrelinhas das histórias, aquela parte cujo narrador não contava, mas os ouvintes alcançavam. Em seguida, Canção Estrelada narrou: “Havia uma tribo muito antiga, que durante muitos invernos foi governada por um cacique muito simpático, inteligente e com um método peculiar de se manter no poder. Ele liderava pela discórdia”.

Diante da expressão de estranheza de algumas pessoas, o xamã esclareceu: “Inteligência e simpatia, instrumentos típicos da luz, também são ferramentas das sombras quando não estão envolvidas com amor”. Prosseguiu: “Sem que a maior parte da tribo percebesse, ele instigava a desavença entre os seus integrantes. Depois, se apresentava como mediador para pacificar as relações, deixando a sensação de que ele era indispensável ao equilíbrio da tribo e ao bem-estar de todos. Aos poucos, a relação de dependência criada ao seu redor se fortalecia, assim como o seu poder de governar. Contudo, a mágoa entre as pessoas também crescia. O cacique promovia jogos e festas para que se distraíssem da realidade que os engolia e limitava. Eram momentos de mera euforia, uma sensação que muitos confundiam como se fosse alegria ou felicidade”. 

“A admiração pelo cacique se tornara o único ponto em comum em toda a tribo. Ou quase toda. Como em todas as aldeias daquela época, naquela também havia um Conselho de Anciões formado por homens e mulheres respeitados pela sabedoria conquistada e pelo amor sedimentado durante a vida. Eles se reuniam nos equinócios de inverno e verão, ou quando surgisse uma necessidade maior, para deliberarem sobre os rumos da tribo. As decisões deveriam orientar a administração da aldeia feita pelo cacique. Nos últimos tempos, como reflexo do conjunto das emoções pessoais, mas sem que as pessoas percebessem, a atmosfera da aldeia se tornara muito densa e sombria. Apesar da colheita abundante e da caça farta, a insatisfação crescia. Insatisfação em relação a quê? Quase ninguém conseguia identificar a causa de tamanho mal-estar, embora houvesse todas as condições materiais para que os dias fossem usufruídos de maneira alegre e saudável. A vida na aldeia era pesada porque as relações eram tensas. A tolerância e a paciência tinham desaparecido; quando isto acontece a vida se estreita. As diferenças inerentes e enriquecedoras entre as pessoas eram apontadas como erros ou defeitos; as dificuldades eram interpretadas como fraqueza ao invés de serem vistas como possibilidades de superação e evolução. As pessoas sentiam uma necessidade inexplicável de se mostrar forte. Restara a sensação de que ninguém poderia revelar qualquer fragilidade, pois sucumbiria diante do julgamento alheio e, pior, em relação à opinião que tinha de si próprio”. Canção Estrelada fez uma pausa propositalmente dramática e acrescentou: “Ninguém queria se admitir infeliz, perdido de si mesmo, cansado e vazio. As virtudes eram vistas como fraqueza; a humildade era uma característica dos derrotados e submissos. Confundiam coragem com agressividade, sinceridade com ofensa, respeito com medo. O amor era coisa para tolos e ingênuos. Como era uma força nascida do ódio e alimentada pela mágoa, reinava a sensação que venceria aquele que conseguisse subjugar o outro, cuja vontade prevalecesse sobre as demais. O mais prepotente e arrogante seria o vitorioso; o mais forte seria aquele que odiasse mais. Somente o orgulho e a ignorância concedem esse nefasto poder”.

“Ao entender que as emoções densas tinham levado as relações entre os membros da tribo a níveis insuportáveis de tensão e, como consequência, a aldeia se tornara uma cruel prisão sem grades, o Conselho de Anciões se reuniu e deliberou que um novo cacique deveria ser escolhido. Um líder capaz de pacificar a guerra surda que existia na aldeia, auxiliando as pessoas a refazerem as suas relações, entregando a cada pessoa o poder de conduzir a própria vida. Para tanto, era preciso se libertar das dependências criadas pelas sombras, viver sem mágoas e descobrir o poder pessoal proporcionado pelas virtudes. Segundo o Conselho, o verdadeiro líder é aquele capaz de desabrochar em cada pessoa aquilo que há de melhor em seu coração”.

“À medida da evolução pessoal, cada indivíduo deve se tornar o perfeito líder de si mesmo, com a devida responsabilidade de desenvolver a capacidade para harmonizar todas as suas relações, seja consigo mesmo, seja com todas as pessoas. Apenas isto nos integra à Mãe-Terra e nos permite ver a face do Grande Espírito”.

“Ao tomar conhecimento da decisão do Conselho, o cacique disse que não se oporia à proposta dos sábios da tribo. Vários membros da aldeia se candidataram ao cargo de cacique. Nos dias que antecederam a escolha, os candidatos começaram a discutir entre eles e a pessoas tomaram partido dos seus preferidos, acirrando o conflito até que aconteceu uma enorme briga na aldeia. Mais uma vez, o antigo cacique foi procurado para resolver o problema e declarou que a tribo não sobreviveria sem a sua liderança. Todos se calaram e a eleição foi cancelada”.

“Os anciões, membros do Conselho, começaram a ser vistos com desconfiança e tratados com desprezo pelas pessoas. Alegavam que a filosofia dos sábios não se aplicava à realidade, ao contrário do pragmatismo do cacique que resolvia todos os problemas. Então, os anciões preferiram se afastar e foram morar nas montanhas”.

“Com o passar do tempo, apesar da boa colheita e da caça continuar farta, a aldeia entrou em decadência. A princípio, ao contrário da crença predominante, a verdadeira decadência nunca está relacionada às questões econômicas, mas espirituais, que, por sua vez, falam fundamentalmente sobre amor e ética. Ética, em resumo, é dignidade. A decadência não dialoga com a matéria sem antes fechar a porta dos valores invisíveis do espírito, tesouros tangíveis apenas ao coração e palpáveis à consciência”.

Nesse momento me dei conta que Canção Estrelada definira ética, ainda que de modo sucinto, mas se esquecera do amor. Eu nada disse para não atrapalhar o andamento da história.

“Certo dia, o cacique foi acometido por uma misteriosa enfermidade e veio a falecer. Desorientadas, as pessoas não mais sabiam conviver sem a sua mediação, tinham esquecido como era possível viver sem que houvesse alguém para lhes dizer a direção que seguiriam, aquilo que era certo ou errado. Tinham desaprendido sobre o poder das escolhas e do amor. Haviam se tornado prisioneiras de si mesmo pela incapacidade de pensar e sentir de modo diverso a que tinham sido condicionadas. Porém, não conseguiam compreender e traduzir essa ideia em forma de pensamento claro e simples. Perdidos pela ausência de uma liderança, os antigos sábios foram convidados a retornar das montanhas para coordenarem a escolha de um novo cacique. Os sábios tiveram dificuldade em entrar na aldeia, não que fossem impedidos por alguém, mas por causa da atmosfera densa, criada por tanto ódio, mágoa, inimizade, intolerância e impaciência. Energias ancoradas naquele local após uma convivência tensa de muitos anos. Foram realizados cerimoniais para dissipar essas vibrações adversas e insalubres, porém, era indispensável que as pessoas mudassem os próprios padrões emocionais e cognitivos para que a energia predominante pudesse restar definitivamente transmutada. Embora a atmosfera tivesse melhorado, a aldeia não estava curada, pois a maioria ainda trazia em seu íntimo o ranço de um comportamento, embora nocivo, ainda predominante no jeito de pensar e agir. Enfim, em essência, nada mudara”. 

“Nenhum ciclo se encerra enquanto existir resquícios da sua forma obsoleta de ser e de viver. A vontade de mudar tem que ser sincera, nascida no âmago do indivíduo, pelo olhar claro que passou a possuir, da verdade que não mais quer retroceder. Não apenas movida por interesses circunstanciais e momentâneos, insuficientes para alicerçar uma honesta transformação. O discurso não basta, as escolhas é que personificam as transformações”.

Canção Estrelada olhou para as pessoas sentadas no gramado e comentou: “Qual a minha verdadeira intenção? Esta é a pergunta que deve orientar todas as escolhas e preceder a qualquer gesto. Não se assuste ao se deparar com as suas motivações rasas, vis e interesseiras. Em verdade, quando acontece, é maravilhoso. Aceitar as próprias imperfeições é a pedra primordial para as correções indispensáveis à evolução. O contrário disso é a maior das mentiras, aquela que contamos para nós mesmos, que nos aprisiona no atraso. O sofrimento será sempre o sinal de um coração que clama por mudanças em si mesmo. O grito de um coração que precisa aprender a amar mais e melhor”.

“O Conselho de Anciões, novamente restaurado, sugeriu que ao invés de escolherem um novo líder, com poderes absolutos, fosse criado um colegiado para administrar a aldeia; um grupo de pessoas que, através de diversos pontos vista, governasse a tribo, proporcionando um melhor equilíbrio entre as diferenças existentes. Ressaltaram que as diferenças eram fundamentais, pois, quando entendidas e aceitas, aproximam as pessoas; integralizam e perfazem o todo. Partes que sobram significam partes que faltam. As partes que aparentemente não cabem em lugar nenhum são aquelas que a Perfeição aguarda para se completar”. 

“Todos aplaudiram e aprovaram a ideia. O grupo que formaria o colegiado foi escolhido por todos na aldeia. Um enorme avanço parecia ter sido alcançado. Contudo, na primeira divergência, as diferenças não foram compreendidas e a discórdia retornou. Sem demora, um dos membros do colegiado acirrou os ânimos dos envolvidos e, em seguida, se apresentou para resolver o conflito. Outras situações semelhantes se sucederam, sendo resolvidas da mesma maneira. Uma velha prática tinha voltado? Não, em verdade, ela nunca tinha ido embora. Antes que a lua mudasse, o colegiado se desfez e esse membro foi escolhido como o novo cacique, aos mesmos moldes e métodos do anterior. O veneno ainda estava na veia da tribo”.

“Os sábios alertaram do perigo, mas não foram ouvidos. Então, retornaram às montanhas. Como tudo é aprendizado para que se traduza em evolução, as lições seguintes precisaram de maior rigor para que os alunos imaturos pudessem aprender. Uma severa seca ocorreu nas estações seguintes, levando a aldeia a passar por um período de fome, fraqueza e necessidades até então desconhecido. Os conflitos internos se acirraram e o poder do novo cacique foi levado ao limite do insuportável, gerando muitos abusos e sofrimentos. Fragilizados, não apenas pelas dificuldades materiais que passavam, mas principalmente pelos distúrbios emocionais e pelas divergências pessoais movidas por interesses mesquinhos e alimentados pelas sombras que se agigantam em momentos assim, uma tribo nômade que passava por ali, ao perceber a oportunidade, atacou a aldeia. Enfraquecida em si e por si mesma, a aldeia foi derrotada e dominada pelo inimigo. Aqueles que não sucumbiram no ataque, foram levados para servirem de escravos. Resignados e sem que mais nada pudessem fazer, do alto das montanhas, os anciões apenas observaram o destino pelo qual a tribo se deixou conduzir. A aldeia não mais existia. Sem que fossem capazes de entender, os seus habitantes tinham feito aquela escolha”.

Ao final, houve um grande silêncio. As pessoas sentadas em volta do carvalho concatenavam as ideias tentando entender tudo que foi dito e, principalmente, a sabedoria que ficara nas entrelinhas da história. Como a ficção poderia ajudar à realidade? Inconformado, um menino, com cerca de doze anos de idade, levantou o braço. Canção Estrelada arqueou os lábios em leve sorriso e fez um movimento singelo com a cabeça autorizando o questionamento. O garoto alegou que a história estava errada, pois não fazia sentido aquele final. Compreendia o fato de que os sobreviventes da batalha perdida tenham virado escravos, como era costume no passado. Contudo, tinha sido somente o destino movido por circunstâncias externas e alheias a vontade deles, pois nem mesmo um louco faria uma escolha tão absurda.

Pelo burburinho que se formou, pude perceber que muitos adultos também pensavam como o garoto. O xamã esperou que o silêncio retornasse e perguntou a todos: “Quanto do destino de cada um de nós depende unicamente de nossas escolhas e qual a parcela que cabe ao Grande Mistério determinar?”.

As pessoas sugeriram diferentes percentuais, sejam em consequência das decisões pessoais, sejam as imposições do Acaso, a influenciarem o destino de cada indivíduo. No entanto, havia um consenso: é impossível ter controle sobre todos os acontecimentos. Canção Estrelada ponderou: “É verdade, mas também não é verdade”. Foi pedido que explicasse melhor. Ele fez de bom grado: “Todos os fatos pelos quais não temos controle, como alguns desastres ou doenças, costumamos denominar de destino ou carma. Fazia parte do meu destino, não tinha como evitar, comentam. Ou ainda, aconteceu porque era o meu carma. Ora, destino ou carma nada mais são do que as cartilhas do aprendizado pessoal. Escolhas que em algum momento, ainda que não esteja nítido na memória, deixaram de ser feitas e necessitam de entendimento e correção. Somos todos viajantes rumo à luz, mesmo aqueles que ainda não aceitam a viagem ou se negam a corrigir a rota. Assim, aprendizados que não se completam em uma existência são transferidos para as seguintes. Isto explica muitas tragédias, principalmente quando se abatem sobre crianças indefesas. Esta explicação não exime ninguém de combater o mal com firmeza, mas traz o entendimento sobre a existência de alguns fatos desagradáveis e, aparentemente, inexplicáveis. O Grande Mistério não trabalha com hipóteses de sorte e azar”.

“A maioria das pessoas já ouviu falar sobre a Lei Cósmica do Retorno. Todo pensamento ou gesto traz uma reação de igual quilate em sentido contrário. Alguns preferem se esquecer dessa regra inexorável a pretexto de interesses menores e imediatos. São aqueles que gostam de se iludir. Muitos a temem como se fosse uma lei de punição. São aqueles que ignoram o sentido maior das estrelas. A Lei do Retorno é uma poderosa força de equilíbrio, existente para manter a harmonia do universo. É a Lei dos Guardiões, por se tratar de uma lei educativa que ensina sobre justiça, dignidade e amor. O mundo irá lhe abraçar da maneira como você abrir o seu coração. Quer amor? Não precisa pedir, basta oferecer”.

Uma mulher interrompeu para dizer que muita gente se recusava a receber o amor que ela desejava dar. Canção Estrelada concordou: “Sim, acontece todos os dias, mas não pode se tornar um impedimento para que você prossiga semeando as suas mais belas flores pelos desertos do mundo. Muitos outros estão ávidos e necessitando do seu amor. Àqueles que se negam, entenda que ainda não estão prontos para viver o mel da vida. Recomendo paciência. Apenas imponha limites para que eles não a maltratem e, se precisar, se afaste pelo tempo necessário. Cada pessoa possui o seu próprio ritmo de viajar: a consciência estabelece o passo e o coração dita o compasso do andarilho. Mas esteja atenta para nunca se negar a estender a mão quando for preciso. Seja sempre uma luz na trevas, mas aceite que muitos ainda preferem ficar no escuro. Lembre-se do movimento dos anciões, que foram às montanhas, retornaram à aldeia e tornaram a ir para as montanhas em respeito aos seus próprios princípios e valores”. 

              “Contudo, jamais tente trapacear a si mesmo. Isto equivale a vã tentativa de enganar o Grande Mistério. Entenda a verdadeira intenção por trás de cada gesto. Quantas gestos de aparente misericórdia não ocultam ideias atrapalhadas de culpa, desejos insensatos de dominação ou a ânsia em afagar o próprio orgulho de se sentir maior que os demais? Apenas para citar algumas de inúmeras possibilidades”. Fez uma pausa, olhou para as pessoas sentadas no gramado e acrescentou: “Não respondam a mim, é uma pergunta que cada um deve se fazer todos os dias. Embora toda ajuda seja bem-vinda, sem amor a misericórdia não se perfaz. Entender as próprias intenções é um caminho seguro para se chegar ao âmago de si mesmo, se olhar de frente diante do perfeito espelho e arrancar as cascas que ainda o impedem de usufruir de um grande e diferente poder”.  

                O mesmo garoto interrompeu o xamã para perguntar qual poder seria esse a que ele se referia. Canção Estrelada sorriu pela ousadia do menino, depois franziu as sobrancelhas e explicou com doçura: “Assim como naquela aldeia da história, estimulamos e exercemos em nós o poder que nos tornará mais forte. Todos querem ser fortes e não há nada de errado nisto. Contudo, acreditamos que este poder está ligado a dominação da vontade alheia, supremacia dos interesses próprios, a hegemonia das nossas ideias, ao temor que as pessoas sentirão por nós. Então, o mais forte será aquele que odiar com mais intensidade, o orgulhoso que mais brilhar, o vaidoso mais aplaudido, o prepotente que maior subjugação impor, o teimoso que reagir agressivamente com o mundo quando a sua verdade não for acolhida. Claro, tudo isto disfarçado com discursos adequados para atenuar a responsabilidade, fraudar a consciência e calar o coração. Contudo, mesmo sufocado ou ignorado, o amor nunca morre. Ele é manso, sereno, claro, leve e quieto. Não faz barulho, não chama a atenção. Entende as dificuldades, compreende com profundidade, abraça sem alarde, aconchega sem interesse, nada pede nem exige. Quando é utilizado como caminho, permite ao andarilho penetrar em fortalezas até então inexpugnáveis e o torna capaz de acender a luz desconhecida para mostrar as maravilhas ocultas do mundo e a beleza radiante da vida. Permaneceremos como escravos para as tribos nômades da escuridão enquanto negarmos o óbvio: a verdadeira força e poder nunca será daquele que sentir o maior ódio, em qualquer das suas muitas variantes, mas de quem aprender a amar mais e melhor”.

               O silêncio imperou no gramado da casa de Canção Estrelada. Profundamente tocadas, as pessoas se despediram com gratidão pela manhã iluminada proporcionada pelo xamã. No sábado seguinte a sessão se repetiria. No início da noite, o encontrei sentado em sua cadeira de balanço na varanda. Preparava o seu indefectível cachimbo com fornilho de pedra vermelha, enquanto olhava para o céu observando a chegada silenciosa das estrelas. Sentei-me na poltrona ao seu lado. Sem nada dizer, ele acendeu o fumo, baforou algumas vezes e me olhou como se soubesse que eu queria conversar. Lembrei que durante a narrativa da história ele se esquecera de definir o amor. Pedi que o fizesse no breve tempo de duração do voo rasante de uma águia. Canção Estrelada arqueou os lábios como se já esperasse por isso e, em seguida, enfrentou o desafio: “Amor é comunhão”. E finalizou: “A indispensável comum-união consigo mesmo para ser capaz de realizar uma união com aquilo que temos de melhor e de comum com todo o mundo”. 

                Tive a estranha sensação que a estrela mais brilhante da noite, naquele instante, sorriu para Canção Estrelada.

Imagem: Agsandrew – Dreamstime.com

10 comments

Fernando Cesar Machado janeiro 16, 2020 at 1:45 am

Gratidão profunda e sem fim Yoskhaz, sem fim…

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Hélio Proença janeiro 17, 2020 at 9:10 am

Belíssimo texto…temos muito que aprender com esta história…a gente fica á pensar que o mundo está precisando consultar e ouvir o conselho de anciões, mais como ficou claro tudo no tempo certo…então caminhemos e vamos levando a nossa capacidade de amar !

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Joane Faustino janeiro 17, 2020 at 9:41 am

✨♥️🌹

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Terumi janeiro 18, 2020 at 10:21 pm

Gratidão! 🙏

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Karine Oliveira janeiro 20, 2020 at 2:16 pm

Grata, Yaoskhaz!

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Karine Oliveira janeiro 20, 2020 at 2:17 pm

Grata, Yoskhaz!

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Rita janeiro 22, 2020 at 3:30 pm

Maravilha… como sempre, Yoskhaz! Gratidão 🙏🙏🙏

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Luciano Magela fevereiro 9, 2020 at 11:45 pm

Maravilhoso. Gratidão. Amo muito Canção Estrelada.

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Alcídia Batista março 21, 2020 at 9:09 pm

Mágico- em essência é transformação.
Sagrado- é tudo aquilo que nós torna melhores.
Amado Yoskhaz achei isso genial!!!

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Michelle abril 10, 2020 at 8:53 am

❤️🌹!

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