O dia ainda não dava sinais de amanhecer. Era uma noite sem lua. Um incrível manto de incontáveis estrelas pequeninas cobria o vale montanhoso onde o mosteiro adormecia. Eu já tinha dormido o suficiente. Era hora de tomar um café e aproveitar o silêncio e a quietude para realizar algumas reflexões necessárias ao momento existencial que eu vivia. Quem eu era tinha me levado até ali; dali por diante seria necessário me tornar outro se eu quisesse avançar. A questão era entender o que em mim precisava de entendimento, transformação e realização. Ao chegar na cantina, encontrei com o Heitor, o monge argentino, psicanalista de rara mestria e amigo desde que eu ingressara na Ordem Esotérica dos Monges da Montanha havia algumas décadas. Éramos da mesma turma, embora os seus estudos para a compreensão da alma e da psique tivessem se iniciado muitos anos antes. A amizade instantânea se consolidou com o tempo e, principalmente, com acontecimentos que nos aproximaram. Ele acabara de passar um bule de café e estava sentado em uma das mesas próximas às janelas. Deixava que a beleza do céu estrelado embalasse os seus pensamentos. Sorriu com sincera alegria ao me ver. Enchi uma caneca e me sentei ao seu lado. Nossas conversas eram famosas por se alongarem por um dia inteiro. Gostávamos de ouvir um ao outro, como é comum entre amigos. Havia algum tempo que isso não acontecia. Sem que ele nada perguntasse, comecei a falar sobre as minhas recentes reflexões. O que era amadurecer; como e quando acontecia? O que em mim faltava amadurecer?
Heitor sorriu com o questionamento, nada comum à nossa idade. Naquela época, ambos estávamos próximos a nos tornar sexagenários. Tínhamos vividos muitas experiências afetivas e profissionais. Troquei de profissão aos trinta anos; depois, mudei mais uma vez e de novo. Com duas filhas, uma neta e uma namorada de longa data, eu construíra uma família fora dos moldes tradicionais; não se tratava de uma questão de certo ou errado, nem melhor ou pior. Se foi ao meu jeito, era perfeita para mim. Na composição dessa família heterodoxa, cabiam alguns poucos, porém, fiéis amigos de todas as horas. Tínhamos passado por muitas provas existenciais juntos; havíamos sido faróis, uns dos outros, nos momentos em que um de nós se perdeu nas noites escuras das incompreensões. A amizade tinha sido fundamental para que aprendêssemos a reacender a lanterna interna todas as vezes que permitimos que algum obstáculo a apagasse; então, entendíamos como refazer a rota para seguir em frente. Eu os tinha como autênticos irmãos cósmicos. Heitor era um deles. “Está tudo bem?”, ele quis saber. Expliquei que naquele momento a família e os negócios iam bem, nada preocupava. A questão era outra. Num momento em que muitas pessoas da minha idade faziam as contas para a chegada da aposentadoria, eu estava irrequieto. Um novo negócio me animava. O psicanalista perguntou: “Vai se desfazer da editora?”. Respondi que essa hipótese estava fora de cogitação. Os livros sempre foram uma paixão. Mas havia outra, o café. Durante décadas eu imaginara montar uma cafeteria com um conceito que devagarinho se desenhou em mim; alguns pormenores foram inspirados em lugares que conheci nas viagens que realizei, outros detalhes e aspectos eram decorrentes da criatividade que surge na construção de algo que nos dá prazer. A ideia estava pronta. Como naquele momento, eu tocava os dias com tranquilidade, sem maiores preocupações, surgiu uma vontade avassaladora de fazer daquele sonho uma realidade. Havia disponibilidade e disposição. Chegara a hora, afirmei. Heitor deu de ombros e afirmou: “Por que não?”.
O conceito da cafeteria estava maduro. Faltava-me saber se eu estava. Tinha a questão da idade, talvez avançada demais para iniciar um empreendimento. Mas não era só isso. Cogitei se não seria imaturidade me envolver em um negócio no qual eu desconhecia os meandros e mistérios. Não basta ser apaixonado pelo mar para realizar uma travessia oceânica. Era preciso entender a jornada a qual me propunha. Como investimento, eu usaria todo dinheiro guardado durante anos para suprir um eventual imprevisto. Heitor abriu os braços como se falasse o óbvio e ponderou: “Por que nos preocupamos tanto com hipóteses que nem sabemos se irão acontecer enquanto nos impedimos de realizar algo que de fato é importante para a gente seguir motivado pela vida?”. Argumentei que a impulsividade revela traços da imaturidade. Ele concordou e acrescentou: “Sem dúvida. O medo também”.
Calei-me. Com aquelas palavras, o meu amigo me sugerira que, se eu desconhecia o sentimento que me impulsionava, eu permanecia imaturo. Heitor alertou: “A imaturidade não é cronológica, tampouco se mostra apenas em atitudes aparentemente desastrosas. Não existe modelo, fórmula ou molde no qual se consiga encaixar todas as pessoas. A razão é simples, somos únicos. Encontrar uma fôrma para caber, ainda que confortável, é como viver dentro de uma caixa. Toda a magia e as fantásticas possibilidades que há do lado de fora deixarão de existir. É tão imaturo quanto a impulsividade de se aventurar por estradas erráticas na falta de um propósito real que sirva como destino. Enquanto desconhecermos o sentimento que influencia cada uma das decisões tomadas, nos manteremos imaturos. Os sentimentos adequados movem a mente à frente; emoções restritivas empacam o pensar”.
Fez uma pausa antes lembrar: “Compreender os conceitos é o passo primordial para se fazer bom uso das ideias ali contidas”. O psicanalista me perguntou se eu sabia o significado de amadurecer. Falei que acreditava saber até duas semanas atrás. Agora, já não tinha certeza. Eu precisava entender melhor e não havia momento mais oportuno. Rimos. Heitor iniciou a explicação: “Em suma, amadurecer é estar pronto. Alguém se apronta ao se tornar responsável por si mesmo, ao assumir as consequências das suas escolhas, assim como pelos sentimentos e ideias que o movem; é autossuficiente, compreende com clareza o seu propósito de vida e já consegue trabalhar com uma visão subliminar. De um lado, uma definição simples que pode se tornar simplória para quem não entende todos os aspectos ocultos nela contido; de outro, um conceito complexo que traz muita confusão e devaneio quando mal compreendido”.
Pedi para que ele esmiuçasse a maturidade de maneira clara e objetiva, de modo que se tornasse acessível a todas as pessoas. Heitor sorriu com a generosidade que lhe era peculiar e prometeu tentar: “O amadurecimento nada tem a ver com a idade, mas com o equilíbrio emocional e a força mental. Somos a resultante das elaborações do sentir e do pensar a cada experiência e a todo instante. Quanto mais instável for a variação, menor a maturidade. No entanto, estabilidade também não significa se manter estanque, engessado ou imóvel. A estabilidade precisa se mover em busca de pontos de equilíbrio e força cada vez mais avançados. Quanto menor for o movimento, maior a imaturidade. Movimentos estes que se originam no âmago para se expressarem no mundo; são captados no mundo para serem equacionados no âmago em perfeita e contínua simbiose. Portanto, a ideia daquele erudito barbudo que mora dentro de uma volumosa biblioteca, cita frases de antigos sábios contendo verdades universais, mas se nega às aventuras da vida com os riscos que lhe são inerentes, pode até impressionar multidões de incautos e se tornar um guru, porém, esconde uma personalidade imatura por fugir das batalhas árduas do cotidiano. São aqueles dispostos a ensinar como fazer sem nunca terem lidado com o esforço da realização. Costumam ter séquitos de seguidores, adoradores e serviçais para suprir todas as suas inúmeras dependências. Saber sem fazer gera dependência, um dos signos da imaturidade. Aprender sem realizar não se traduz em transformação e, por consequência, nem em evolução”.
Bebeu um gole de café e prosseguiu: “Outro aspecto da maturidade é a plena responsabilidade pelos sentimentos e ideias que o movem. Ora, dirão alguns, impossível não sentir raiva, mágoa ou tristeza pela maldade que nos fazem. Sim, é natural sermos envolvidos por emoções densas diante de situações desagradáveis, mas deixar que essas sensações criem raízes no coração, se tornem sentimentos duradouros e passem a direcionar as futuras decisões, revela aspectos que não podem passar desapercebidos. Ninguém coloca o ódio ou o ressentimento dentro da gente. O sentimento já existia, ainda que em potencial. A semente da erva daninha estava escondidinha ou adormecida, mas estava lá; o acontecimento apenas trouxe a chuva que a fez germinar. Não entender é desconhecer-se; não aceitar é negar-se. Comportamento comum aos imaturos”. Em seguida, adicionou outra hipótese: “Do mesmo modo, ao ouvirmos várias versões de um fato, somos levados a crer naquela que narra os acontecimentos sob o prisma compatível às ideias e sentimentos que nos agradam; preferimos os boatos cegos e deliciosos a ter de lidar com verdade selvagem que destrói as crenças que sempre nos serviram de mapa e bússola; é difícil admitir um equívoco que nos orientou por tanto tempo e enfrentar o constrangimento e o esforço da reconstrução da verdade em si mesmo. Negar e fugir é imaturidade; entender e aceitar é atitude madura”. Deixou o olhar vagar por instantes pelas estrelas distantes e concluiu: “Diante de reações intempestivas, muitos dirão que foram provocados, que o descontrole é normal diante da ofensa; argumentarão que fulano tem o poder de tirar o que há de pior de dentro das pessoas. Ora, expressamos o conteúdo que nos habita; sejam flores ou pedras, oferecemos somente o que temos na bagagem. Compreensão ou intolerância, compaixão ou impaciência, humildade ou soberba, sabedoria ou ignorância, amor ou ódio, doçura ou aspereza. Claro, sempre teremos a escapatória de nos deixar levar por um raciocínio tortuoso para justificar os próprios erros, e seguir convivendo com o engano conveniente ao invés de enfrentar a prova difícil da verdade, aceitação do erros e do compromisso com a transformação. A maturidade exige responsabilidade sobre os próprios sentimentos, ideias e posturas. Cada uma das situações que lhe arrancam do poder sobre si mesmo para o deixar a mercê do comportamento alheio revela o quanto ainda o mundo o manipula entre luz e sombras. A tentativa de transferir a responsabilidade das próprias reações demonstra traços inequívocos de imaturidade. Fazer sem saber estimula a impulsividade, outro dos signos da falta de amadurecimento”.
Tamborilou os dedos sobre a mesa como fazia nas vezes que entrava em questões delicadas e questionou: “Alguma vez favoreceu alguém em prejuízo de outra pessoa, que embora fosse merecedora, não recebeu a sua justa parte por causa dos diferentes sentimentos que nutria por elas?”. Envergonhado, disse sim com a cabeça e confessei o meu o arrependimento. Em seguida, perguntou: “Sabe o que significa quando deixamos que um sentimento seja mais poderoso que a verdade?”. Uma nítida imaturidade, respondi.
Heitor sorriu satisfeito e avançou no tema: “Outra característica da maturidade é a autossuficiência, uma questão que precisa de melhor entendimento. Não se trata de não precisar de ninguém. Isto tão imaturo que beira à infantilidade. Se estiver doente, procure um médico; um problema jurídico necessita do suporte de um advogado; não há como tornar uma empresa próspera sem a ajuda de bons colaboradores. A autossuficiência a que me refiro é mental e emocional, como pressuposto indispensável à autonomia, o conceito de viver de acordo com as próprias regras. Isto não significa uma tola rebeldia diante das leis que têm por finalidade a convivência salutar e respeitosa entre pessoas que trazem em si enormes diferenças internas, mas que possuem iguais direitos de conviver em uma mesma sociedade. Embora precisem de atualizações constantes para acompanhar as frequentes mutações sociais, a lei é a fronteira objetiva entre a civilização e a barbárie”. Fez uma pausa antes de retornar ao cerne da questão: “A autossuficiência mental e emocional é alcançada quando o indivíduo se torna proprietário de determinado nível de compreensão sobre si mesmo, capaz de equalizar as escolhas em um padrão convergente em verdades, virtudes e ética unificadas e coesas. Uma coerência que reverberará em força e equilíbrio. Força é a potência irredutível e singela com que o indivíduo se move interna e externamente. Equilíbrio é a moderação e harmonia com que se relaciona consigo e com o mundo, em narrativa repleta de humildade e simplicidade, compaixão e coragem, paciência e tolerância, mansidão, firmeza e sensatez. Lutar sem agredir, argumentar sem ofender, respeitar mesmo sem concordar com as escolhas alheias se traduz em suavidade e leveza, preciosos conteúdos de uma bagagem esvaziada em mágoas, asperezas e conflitos, sempre desnecessários. Há muita luz em se viver assim. A autossuficiência se expressa na capacidade se orientar pela própria luz. Então, terá conquistado a autonomia para viver de acordo com as próprias regras, sem validação extrínseca, dependências intrínsecas e influências incompreendidas em seus movimentos”.
Indaguei sobre o propósito de vida como requisito à maturidade. Heitor esclareceu: “Se perguntar, quase todos dirão possuir um propósito. No entanto, se faz indispensável entender o prazer que nos move para compreendermos para onde estamos indo. Há quem queira ganhar dez milhões de dólares por ano, os que anseiam por se tornarem popstar instantâneos ou possuem propósitos similares a esses. Nada há de errado neles. O que não se pode esquecer é que os propósitos são equivalentes às rotas. Cada rota, uma viagem. Nem toda viagem leva ao destino esperado”. Falei que não tinha entendido. O psicanalista foi didático: “Priorizar o mundano em desprezo ao sagrado revela imaturidade pelo desconforto que causa o abandono da alma. A vida se mantém na superfície da existência, tornando os movimentos rasteiros e trazendo os prazeres de curta duração. Uma vida em desconexão com a essência que nos habita instala um vazio existencial. Uma tristeza inexplicável e uma angústia sem sentido se espraiam no âmago, mesmo que o orgulho jamais nos admita aceitar que estamos perdidos, fragilizados ou infelizes”. Fez uma pausa para eu concatenar o raciocínio e continuou: “Na outra extremidade, priorizar o sagrado em desprezo ao mundano se caracteriza pela fuga aos embates e desafios evolutivos presentes nas dificuldades cotidianas. A vida se perde na ilusão de uma profundidade teórica, e por isto fictícia, por se negar às rigorosas provas da realidade. Os devaneios escalam tons afastando o indivíduo da realidade; são construtores de céus de papel”. Bebeu mais um gole de café e fez uma pergunta retórica: “Percebe como os extremos se assemelham em resultados?”. Em seguida, esclareceu: “A virtude está no meio, na harmonia entre os opostos. Alinhar o sagrado ao mundano a cada movimento, sem permitir que se separem nem colidam, concede a amplitude da existência aliada à elevação da vida. A viagem se torna substanciosa e diferenciada”. E fez uma ressalva: “No entanto, não pode haver sacrifício. Se houver, significa que o propósito é apenas um ideal ainda imaturo. O amadurecimento trará consigo a determinação, a alegria e o prazer de caminhar. As dificuldades serão reverenciadas como mestres, jamais lamentadas como empecilhos”.
Esvaziou a caneca de café e comentou: “É nesse ponto que a visão subliminar trabalha em consonância com o propósito de vida em favor da maturidade. Os olhos da face mostram as cores da superfície e os movimentos aparente das pessoas. São verdades incompletas; ou nem mesmo trazem resquício de uma verdade. A visão subliminar permite a leitura nas entrelinhas das palavras não ditas, no sofrimento oculto da ação injustificada, do detonador escondido que provocou a explosão incompreendida, da armadilha invisível que aprisiona uma pessoa nela mesma. São os olhos da alma. Capazes de ver a lágrima que não escorre; de entender o sim que significa não; encontrar cores quando tudo se mostra cinza”. Esperou que eu enchesse as nossas canecas com mais café e prosseguiu: “O olhar modifica a realidade. Reaprender a realidade reajusta o propósito da vida”. Franziu as sobrancelhas e concluiu: “A maturidade oferece a transformação angular, como um divisor de águas no curso de um rio que o permite se fundir ao mar”.
Pedi para que explicasse melhor esse último trecho. Foi quando ouvimos a voz de alguém que estava na cantina sem que déssemos conta: “Amadurecer é preciso. Como ensinou um sábio, permanecer imaturo faz perder a curva de aprendizado que permite o controle sobre si mesmo e o leva a desperdiçar o poder da vida”. Era o Velho, como carinhosamente chamávamos o monge mais antigo do mosteiro. Ele estava sentado em outra mesa fazia algum tempo, mas não o tínhamos notado. O bom monge explicou que não quis atrapalhar a conversa, mas não teve como evitar de nos ouvir, até que não resistiu e decidiu participar. Desculpou-se pela intromissão e pediu para se juntar a nós. Ele seria sempre bem-vindo, dissemos com alegria. Falei que a frase citada trazia enorme beleza, mas também um enigma, carecendo de explicação mais detalhada. Heitor concordou comigo. O bom monge encheu uma caneca com café e se sentou à mesa conosco. Depois, disse: “A maturidade é como a montagem de um quebra-cabeça; várias peças precisam se encaixar harmoniosamente para formar uma linda imagem. No caso, cada um precisa montar a si mesmo. Na falta de uma delas, a beleza da imagem permanecerá incompleta. Ouvi o Heitor explicar com clareza o conceito e o funcionamentos das peças”. Dirigindo-se a mim, disse: “Esse conhecimento, se usado corretamente, o fará alcançar a maturidade, permitindo as necessárias transformações interiores para as consequentes e indispensáveis realizações”. Expus os meus questionamentos sobre as incertezas que trazia sobre o início de um novo negócio, próximo de completar o meu sexagésimo aniversário, investindo todo dinheiro que tinha. Perguntei se seria a imaturidade juvenil de me aventurar por estradas erráticas ou haveria maturidade em fazer um sonho acontecer, como maneira de manter a vida pulsando em mim. A resposta foi lacônica e inconclusiva: “Depende”.
Daquele jeito ele não me ajudava, pensei sem nada falar. O Velho sorriu, como se soubesse os pensamentos que me ocorriam naquele momento, e explicou: “O Heitor falou de quatro peças indispensáveis à montagem do quebra-cabeça da maturidade: a responsabilidade pelos seus atos, ideias e sentimentos; a autossuficiência; o propósito; e a visão subliminar. Faltou o quinto elemento”. Enquanto Heitor e eu nos olhávamos sem saber do que ele falava, o bom monge o revelou: “A antevisão. Trata-se da capacidade de antecipar alguns acontecimentos baseada na observação aguçada dos fatos. Não a confunda com as expectativas e a suposições típicas ao comportamentos dos imaturos”. Não foi preciso pedir que esmiuçasse aquele conhecimento: “Na maturidade sabemos que não há atalhos no caminho, que somos os herdeiros das nossas escolhas, que o sentido da vida consiste na construção de si mesmo e fora do amor só resta a insalubridade de uma existência árida. Basta olhar para trás com clareza, sinceridade e coragem para entender onde acertamos e erramos. Em que momento poderíamos ter feito diferente e melhor em todas as nossas relações, sejam familiares, sociais, afetivas ou profissionais. Os dias servem como escola e oficina; se não aprendeu, a lição se repete; se aprendeu, precisa utilizar o aprendizado. Senão, a vida corrige e sacode. Andou errado, tropeça; de um jeito ou outro. Acertou, uma nova ferramenta será oferecida. A cartilha é farta e criativa; a depender da necessidade, ora doce, ora amarga. Porém, implacável”. Bebeu um gole de café e prosseguiu: “Não se trata de adivinhar o futuro ou outras crendices adoradas pelos imaturos, mas de entender o que jamais dará certo porque está sendo feito da maneira errada. Esse nível de compreensão não está disponível a qualquer pessoa, a antevisão é uma conquista da maturidade”. Em seguida, lembrou: “Há indivíduos com setenta anos ainda perdidos em posturas imaturas, enquanto pessoas com vinte anos usufruem dos benefícios da maturidade. O amadurecimento não é uma questão de tempo, porém, de evolução espiritual”.
Virou-se para mim e finalizou: “Por tudo isso, a resposta é depende. Fora os devidos cuidados quanto às estratégias comerciais, cabe fazer uma retrospectiva dos erros e acertos de todos os relacionamentos que viveu. Use-os ao seu favor. A cafeteria, como qualquer outra empresa, é um ente com o qual erguerá uma relação. O que você oferecer, lhe será entregue. Entenda os sentimentos e ideias que o movem; seja responsável por eles. Fique atento à dedicação que empenha e aos genuínos interesses que alimenta. Não poupe esforços para que os colaboradores sintam prazer em gerar prosperidade ao negócio; a energia de cada integrante compõe a egrégora de uma empresa; o amor une e agiganta, a incompreensão segrega e amiúda; assim acontece com todos os nossos relacionamentos. Não feche os olhos para as verdades desconfortáveis; são as mais difíceis de aceitar e as que costumam nos salvar. Se houver maturidade, nunca faltará a resposta certa”.
Naquele momento, vários monges começaram a chegar para o desjejum. Para além das vidraças, o dia amanhecia. O amadurecimento traz a mesma sensação. Com a claridade, a viagem se torna segura; não que o mundo mude, é o viajante que perde o medo.
Quase um ano depois, estávamos reunidos na inauguração da cafeteria. O resto é história.
4 comments
Gratidão eterna querido Irmão! Mais uma vez, reflexão certa na hora certa..
imaturidade é não se conhecer. ótima reflexão. obrigado
Gratidão pela reflexão! 🙏😁
Gratidão 🙏